Folha de S. Paulo


Com papa latino, igreja se aproxima de fiéis nos Estados Unidos

Os Estados Unidos podem ter visto seu papável favorito (Sean O'Malley, de Boston) ser superado no conclave, mas a ascensão de um argentino fala alto a um grupo cada dia maior entre os 75 milhões de católicos do país: os latinos.

E não só por causa de sua língua materna, o espanhol. Francisco é, na descrição de teólogos americanos, um papa para tempos de crise, que entende a pobreza e cria empatia com os mais carentes.

"Essa escolha fará uma tremenda diferença. Estamos prestes a virarmos, nos EUA, uma igreja cuja principal língua é o espanhol", resumiu à Folha o padre Raymond Kemp, professor de teologia e pesquisador do Centro Woodstock na Universidade de Georgetown.

"A coisa mais bacana deste papa, porém, é sua total identificação com os pobres", diz Kemp, para quem as declarações de Francisco sobre pobreza vão reverberar na Cúria e no rebanho em um momento de crise global. "Acho que as pessoas vão recebê-lo bem aonde quer que ele for nas Américas."

Hoje, 1 em cada 3 católicos dos EUA tem origem latina (entre a população geral, os latinos são apenas 15%).

Mais do que isso, são os latinos que renovam as fileiras da Igreja Católica nos EUA, alimentadas nos dois séculos anteriores pela imigração irlandesa e italiana. Levantamento do Centro Pew (o Censo não afere religião) aponta que eles já são 47% dos católicos de até 40 anos no país.

"Isso ainda é um retrato pontual, mas se as coisas seguirem como estão hoje, logo se consolidará como tendência", disse à Folha Jessica Martinez, pesquisadora do braço do Pew para religião.

Nesse sentido, Kemp afirma que "a mensagem que os cardeais mandam, com a eleição de Francisco, é para que prestem atenção à linguagem, à cultura, às pessoas".

Embora os católicos não sejam maioria nos EUA (são 24%), o país congrega 7% dos fieis da religião no planeta, o quarto maior contingente. Além disso, a Igreja dos EUA destaca-se como uma das maiores financiadoras do Vaticano.

Não à toa a mídia local e o próprio presidente Barack Obama apressaram-se em classificar o argentino Francisco como o primeiro "papa das Américas", e não o primeiro latino.

Mas o momento é de provação para a igreja no país desde que começaram a vir à tona, no início da década passada, casos de abuso sexual de crianças por sacerdotes.

O número de católicos que se declaram fortemente ligados à religião caiu para apenas 27%, o menor em quatro décadas, ressalta o Pew.

Por isso, a escolha de Francisco, fora da lista negra de papáveis acusados de encobrirem abusos, segundo associações de vítimas, foi considerada boa notícia nos EUA.

Os episódios são o principal problema hoje da Igreja Católica para 34% dos fiéis do país.

Editoria de Arte/Folhapress

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