Folha de S. Paulo


Cardeais receberam e-mail sobre laço de Bergoglio com ditadura, diz biógrafa

Na véspera da votação que elegeu Jorge Mario Bergoglio sucessor do papa Bento 16, todos os cardeais participantes do conclave em Roma receberam um e-mail que denunciava cumplicidade do cardeal argentino com a última ditadura militar em seu país (1976-1983).

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A afirmação é da biógrafa de Bergoglio, Francesca Ambrogetti, coautora (com Sergio Rubin) de "O Jesuíta - Conversações com o Cardeal" (editora Vergara, 271 páginas).

Em entrevista à TV argentina nesta manhã, Ambrogetti não revelou a autoria do e-mail, mas disse que os cardeais "não levaram em conta" a denúncia, porque sabem que ela é infundada.

"Esse é um tema antigo e complexo. Esta tudo explicado no livro. Foi o contrário. Ele ajudou em tudo o que pode", disse.

Na versão favorável a Bergoglio envolvendo o período da ditadura argentina, ele teria ajudado a dar abrigo e a viabilizar a saída do país de militantes perseguidos pelo regime militar.

As denúncias, porém, apontam que ele teria proximidade com o comando da repressão e teria agido para favorecer a prisão de opositores da ditadura, alem de ser conivente com a apropriação de bebês de militantes políticos.

EUFORIA

Embora não tenha ignorado o espinhoso tema da atuação de Bergoglio durante a ditadura, a imprensa argentina reagiu com incontida euforia a sua eleição como pontífice.

"Não há como não se emocionar", disse a apresentadora de TV Ernestina Pais, conhecida pela sagacidade de seus comentários no programa "CQC".

Elogios aos modos austeros de Bergoglio tem sido repetidos a exaustão nos jornais e na TV, como a citação ao hábito do cardeal de "andar de metrô, com roupas gastas".

Os jornais impressos noticiaram a eleição em tom de celebração. Ate o esportivo "Olé" dedicou sua capa a Bergoglio, com o titulo "A Outra Mão de Deus" --referência à famosa frase de Maradona sobre o gol irregular que marcou contra a Inglaterra, na Copa de 1986, em que afirmou ter contado com "a mão de Deus".

O tom dissonante na empolgação com o papa argentino ficou com o diário "Página 12", que tem no jornalista Horacio Verbitsky seu principal nome. Verbitsky e autor de "O Silêncio", livro-denúncia da suposta cumplicidade de Bergoglio com a ditadura. A manchete do "Página 12" resumiu o espanto do diário na expressão "Meu Deus!".


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