Folha de S. Paulo


Prognósticos não levam em conta critérios mais importantes, diz d. Odilo

O novo papa é discreto, simples, sábio e incorporou a missão de são Francisco de reformar o interior da Igreja Católica, afirmou nesta quinta-feira (14) o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer.

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Tido como um dos papáveis até o resultado do conclave, dom Odilo disse que entende os prognósticos, mas que eles não levam em conta que "a igreja não é somente uma organização humana".

O cardeal afirmou ainda que o novo papa deve trazer mudanças à organização da Jornada Mundial da Juventude, que reunirá dezenas de milhares de católicos no Rio de Janeiro, no final de julho.

"Teremos um papa com saúde, com menos idade, que poderá eventualmente ousar mais programas do que teriam sido feitos com o papa Bento 16."

A seguir, a entrevista concedida à Folha no Colégio Pio Brasileiro, onde está hospedado em Roma:

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Falou-se do nome de são Francisco de Assis (1182-1226) vinculado à pobreza e à simplicidade. Mas ele também se via com a missão de reformar a Igreja. A escolha do nome inclui esse sentido?
Dom Odilo Scherer - Eu penso que sim. Naturalmente, nós devemos entender, na história de São Francisco, o que é essa reforma da igreja. São Francisco entendeu de repente aquela igrejinha concreta, a de São Damião.
Depois ele percebeu que se tratava de uma reforma mais interior, da própria comunidade da igreja, de voltar às origens da sua fé e no Evangelho como referência da vida.
O papa Francisco vai ajudar a igreja a fazer isso, que, evidentemente, nós já estamos fazendo, o papa Bento 16 já chamou muito a igreja a fazer.
Evidentemente que é um processo, isso não acontece por decreto. Acontece por um processo de adesão, em que toda a igreja é chamada a aderir. Esperamos que o papa Francisco possa ajudar muito a fazer isso em nossos dias.

Há são Francisco Xavier (1506-1552), jesuíta que buscou evangelizar regiões distantes da Europa. Foi também uma alusão a ele?
Não, posso dizer que o papa Francisco escolheu esse nome em referência a são Francisco de Assis.

Nesse momento, o que mais ele disse?
Nada mais. Apenas disse que, em memória de são Francisco de Assis, ele escolhia são Francisco.

Dom Cláudio Hummes ficou bastante próximo a ele durante a apresentação. Qual é a relação entre os dois?
Dom Cláudio Hummes, pra começar, é franciscano. São amigos, ligados, próximos, já participaram do outro conclave também. Eu percebi uma grande proximidade entre dom Cláudio e o novo papa.

Antes do conclave, havia muita expectativa em torno do seu nome, apesar de o sr. sempre dizer que não há candidato a papa. Qual a lição que o sr. tira de todo esse processo?
Eu compreendo que se façam esses prognósticos, mas é muito importante lembrar que é necessário ter em conta que a igreja não é somente uma organização humana. Portanto, não contam apenas os prognósticos.
E, por isso, muitas vezes, os prognósticos não dão certo, porque se leva em conta certos critérios que, no fim, não são os únicos nem os mais importantes.
Por isso, procurei primeiramente desaconselhar esse tipo de prognóstico, não incentivar. Por outro lado, não tomar conhecimento, ficar tranquilo. Eu me senti tranquilo durante o conclave e é também como me sinto agora.

Como o sr. descreve Francisco?
É um homem simples, discreto, no sentido de não ser alguém que rouba a cena, um homem santo. Sábio, verdadeiro pastor da igreja, dedicado à sua missão. Eu acredito que será realmente isso, uma pessoa próxima, amiga, pai para a comunidade da igreja.

Há relatos de que ele colaborou com a ditadura militar argentina. O que o sr. pode dizer sobre isso?
Olha, pessoalmente, não conheço nada a respeito. Mas, como todo mundo faz ilações, eu vou fazer as minhas. Ele não era bispo, era padre jovem, e com toda certeza não tinha nada a ver nem aprovava as ações da ditadura argentina.

O que muda na Jornada Mundial da Juventude no Brasil com a escolha do novo papa?
Alguma coisa provavelmente vai mudar, porque teremos um papa com saúde, com menos idade, que poderá eventualmente ousar mais programas do que teriam sido feitos com o papa Bento 16. Provavelmente, alguma coisa muda na programação. Por outro lado, com toda certeza, teremos muito mais argentinos, o que é uma coisa muito boa.


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