Folha de S. Paulo


No primeiro dia, papa Francisco reza em igreja de Roma

A primeira atividade do papa Francisco em seu primeiro dia de pontificado foi uma visita à basílica de Santa Maria Maior, em Roma, na manhã desta quinta-feira. O templo é um dos lugares que o cardeal Bergoglio sempre ia quando viajava ao Vaticano.

O cardeal chegou ao local por volta das 8h10 (4h10 em Brasília), em um carro comum, que foi escoltado por batedores, dispensando o carro papal. Curiosos e jornalistas que estavam na porta da igreja tiveram dificuldades para vê-lo.

Durante os 20 minutos que ficou no templo, fez orações em frente à imagem de Nossa Senhora, junto com o prefeito do Vaticano, George Gaenswein, e o vice-prefeito, Leonardo Sapienza. Aos confessores, disse: "Sejam misericordiosos, as almas precisam de sua misericórdia".

Francisco anunciou que faria a visita em sua primeira saudação aos católicos, a Urbi et Orbi, do balcão da Basílica de São Pedro. Ele disse que pediria à Madonna (imagem de Maria, mãe de Jesus) que abençoasse "toda Roma", sendo festejado pelos fiéis.

Às 17h locais, ele rezará missa com os cardeais na Capela Sistina, onde foi eleito num conclave que surpreendeu pela brevidade (menos de 26 horas de duração) e por escolher um pontífice que não aparecia na lista de favoritos para assumir o comando da Igreja.

SIMPLICIDADE

Após a visita, Francisco foi ao hotel da Casa do Vaticano para buscar as malas que deixou antes do conclave que o elegeu. Segundo o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, o pontífice pagou a conta, "como forma de deixar um bom exemplo".

Lombardi ainda afirmou que o cardeal Bergoglio deu outras mostras de humildade. O papa dispensou uma plataforma e a cadeira preparada para fazer sua primeira mensagem e preferiu ficar de pé e no mesmo nível dos colegas cardeais.

Depois do jantar de comemoração, voltou ao hotel de ônibus, junto com os outros prelados. O porta-voz do Vaticano ainda informou que o papa escolheu o nome Francisco, não Francisco 1º, como havia sido dito inicialmente.

Questionado sobre uma possível visita de Francisco ao papa emérito Bento 16, Lombardi disse que ela deve acontecer em breve, mas ainda não há data para o encontro, que acontecerá na residência de verão no Vaticano, em Castel Gandolfo.

O cardeal argentino e arcebispo de Buenos Aires Jorge Mario Bergoglio foi eleito papa na noite de terça (13), no segundo dia do conclave, após pelo menos três votações. Ele escolheu Francisco como nome.

Desde o começo do século 20, só um papa --Pio 12, em 1939-- foi eleito nas três primeiras votações. Nos últimos nove conclaves, houve em média sete votações até a definição. Bento 16, que era favorito claro em 2005, foi eleito no quarto escrutínio, no terceiro dia de votação.

PERFIL

Bergoglio nasceu na capital argentina e, depois de cursar o seminário no bairro Villa Devoto, entrou para a Companhia de Jesus aos 19 anos, em 1958. Foi ordenado padre pelos jesuítas um ano depois, quando estudava teologia e filosofia na Faculdade de San Miguel.

De 1973 a 1979, ele foi provinciano pela Argentina e, a partir de 1980, reitor da faculdade de San Miguel --cargo que ocupou por seis anos. O papa obteve o título de doutor na Alemanha.

Foi nomeado bispo em 1992 e elevado a arcebispo em 1997, passando a chefiar a arquidiocese de Buenos Aires desde então. O argentino ingressou no Colégio de Cardeais em 2001.

Na Santa Sé, participava de diversos órgãos: era membro da Congregação para o Culto Divino e para a Disciplina dos Sacramentos, da Congregação para o Clero e da Congregação para os Institutos da Vida Consagrada e das Sociedades da Vida Apostólica, além do Conselho Pontifício para a Família e da Comissão Pontifícia para a a América Latina.

Ele era considerado "papável" desde o conclave que elegeu o alemão Bento 16 para suceder o polonês João Paulo 2º, em 2005. Com a renúncia do primeiro, o nome do arcebispo de Buenos Aires voltou a ficar entre os mais cotados ao posto de papa.

Em 2010, quando a modalidade foi permitida pela legislação argentina, o então arcebispo de Buenos Aires --que já disse que a adoção de uma criança por um casal gay é uma forma de discriminação ao jovem-- entrou em confronto com o governo de Cristina Kirchner. A presidente argentina, por sua vez, replicou dizendo que a posição da Igreja evocava a época medieval.


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