Folha de S. Paulo


Dom Claudio Hummes aparece ao lado de novo papa em seu 1º discurso

Em seu primeiro pronunciamento como novo papa, Francisco tinha ao seu lado o brasileiro dom Claudio Hummes, 78, arcebispo emérito de São Paulo e atual prefeito emérito da Congregação para o Clero.

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Hummes e o Jorge Mario Bergoglio, 76 --ex-arcebispo de Buenos Aires e agora papa--, foram ordenados cardeais juntos, por João Paulo II, em 2001.

A amizade entre os dois e a aparição de Hummes ao lado do novo papa durante seu discurso pode significar, segundo especulações, que ele terá algum cargo importante no Vaticano.

Ao confirmar que a presidente Dilma Rousseff não vai participar da posse do papa argentino na terça-feira (19), na praça São Pedro, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) ressaltou a aparição do brasileiro. "Achei significativo que Hummes estivesse ao lado esquerdo do papa quando ele falava."

Para se tornar o primeiro papa latino-americano da história, Bergoglio obteve ao menos 77 votos dos 115 cardeais de todo o mundo que participaram desde terça-feira (12) do conclave. É também a primeira vez que o cargo é entregue a um jesuíta.

Ele foi eleito no segundo dia, após ao menos três votações. O escrutínio que lhe deu maioria ainda deverá ser confirmado.

Desde o começo do século 20, só um papa --Pio 12, em 1939-- foi eleito nas três primeiras votações. Nos últimos nove conclaves, houve em média sete votações até a definição. Bento 16, que era claro favorito em 2005, foi eleito no quarto escrutínio (no terceiro dia de votação).

Valdrin Xhemaj/Efe
O papa Francisco (de branco) saúda fiéis na praça de São Pedro; à sua esquerda, o brasileiro dom Claudio Hummes (de vermelho)
O papa Francisco (de branco) saúda fiéis na praça de São Pedro; à sua esquerda, o brasileiro dom Claudio Hummes (de vermelho)

FIM DO MUNDO

Em seu primeiro pronunciamento, Francisco disse que os cardeais o encontraram no fim do mundo. "Vocês devem saber que o dever do conclave era dar um bispo para Roma. Parece que os cardeais foram encontrá-lo no fim do mundo. Obrigado pelas boas-vindas".

O novo papa pediu que fizessem uma oração pelo agora papa emérito Bento 16, que renunciou em 11 de fevereiro --atitude inédita em quase 600 anos. Depois disse que ia fazer a bênção, mas antes pediu que os fiéis orassem por bênçãos a ele.

Conforme a tradição, o resultado foi anunciado por meio da emissão de uma fumaça artificialmente colorida de branco, pela chaminé da Capela Sistina. Nas eleições anteriores, que terminaram sem um consenso, a fumaça expelida era de coloração preta. O resultado foi confirmado pelo som dos sinos da Basílica de São Pedro.

Na Argentina, Bergoglio é conhecido pelo conservadorismo e pela batalha contra o kirchnerismo. O prelado também é reconhecido por ser um intenso defensor da ajuda aos pobres. O argentino costuma apoiar programas sociais e desafiar publicamente políticas de livre mercado.

Embora se mostre preocupado com a população de baixa renda, ele não é adepto da Teologia da Libertação --corrente prestigiada na igreja brasileira que, com base em ideias marxistas, defende que o clero atue prioritariamente servindo os mais pobres.

O conservadorismo do novo papa é conhecido por declarações contra o aborto e a eutanásia. Além disso, embora ressalte que homossexuais merecem respeito, o novo papa é contra o casamento gay.

PERFIL

Bergoglio nasceu na capital argentina e, depois de cursar o seminário no bairro Villa Devoto, entrou para a Companhia de Jesus aos 19 anos, em 1958. Foi ordenado padre pelos jesuítas um ano depois, quando estudava teologia e filosofia na Faculdade de San Miguel.

De 1973 a 1979, ele foi provinciano pela Argentina e, a partir de 1980, reitor da faculdade de San Miguel --cargo que ocupou por seis anos. O papa obteve o título de doutor na Alemanha.

Foi nomeado bispo em 1992 e elevado a arcebispo em 1997, passando a chefiar a arquidiocese de Buenos Aires desde então. O argentino ingressou no Colégio de Cardeais em 2001, junto com Hummes.

Na Santa Sé, participava de diversos órgãos: era membro da Congregação para o Culto Divino e para a Disciplina dos Sacramentos, da Congregação para o Clero e da Congregação para os Institutos da Vida Consagrada e das Sociedades da Vida Apostólica, além do Conselho Pontifício para a Família e da Comissão Pontifícia para a a América Latina.

Ele era considerado "papável" desde o conclave que elegeu o alemão Bento 16 para suceder o polonês João Paulo 2º, em 2005. Com a renúncia do primeiro, o nome do arcebispo de Buenos Aires voltou a ficar entre os mais cotados ao posto de papa.

Em 2010, quando a modalidade foi permitida pela legislação argentina, o então arcebispo de Buenos Aires --que já disse que a adoção de uma criança por um casal gay é uma forma de discriminação ao jovem-- entrou em confronto com o governo de Cristina Kirchner. A presidente argentina, por sua vez, replicou dizendo que a posição da Igreja evocava a época medieval.


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