Folha de S. Paulo


Argentino, novo papa teve relação conturbada com casal Kirchner

O novo papa, Jorge Mario Bergoglio, teve um relacionamento conturbado com os governos de Néstor e Cristina Kichner, segundo imprensa argentina.

Néstor Kirchner teve encontros formais com Bergoglio, que o criticava por seu "exibicionismo e os anúncios estridentes", em uma mensagem indireta ao então presidente.

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No Twitter, brincadeiras sobre a escolha

Com o tempo, a possibilidade de aproximação foi ficando cada vez mais distante, sobretudo porque o presidente via Bergoglio como articulador de um projeto de oposição.

O ápice do atrito se deu quando Néstor disse: "Nosso Deus é de todos, mas cuidado que o diabo também chega a todos, aos que usamos calças e aos que usam batinas".

Ainda assim, quando o ex-presidente morreu, Bergoglio reagiu rapidamente, e em algumas horas decidiu rezar uma missa pelo eterno descanso de Kirchner na catedral metropolitana, dizendo que o povo deveria rezar por ele.

A relação com a presidência foi retomada depois que Cristina Kirchner assumiu o cargo, em 2007.

A necessidade de uma "amizade oficial" foi um chamado persistente nos documentos episcopais dos últimos anos, mas depois de um período de aparente trégua, o arcebispo voltou a criticar duramente o governo, atentando para a risco de homogeneizar o pensamento do país e pediu pelo fim da tensão social.

Um dos pontos mais altos da tensão ocorreu em 2011, quando o Congresso argentino avançou no projeto de lei que legalizava o projeto de casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Bergoglio se colocou na linha de frente da oposição e enviou cartas a todos os sacerdotes, nas quais pedia que falassem na missa sobre "o bem inalterável do matrimônio e da família".

"Me preocupa o tom que adquiriu o discurso, se levanta como uma questão moral e religiosa e um atentado à ordem natural, quando na realidade o que se está fazendo é olhar para uma realidade que já existe", foi a resposta de Cristina Kirchner.

Depois da sanção do projeto, a presidente achou por bem frear um projeto que falava sobre a interrupção da gravidez, algo que foi visto como uma concessão à Igreja.

REAÇÃO

Semanas atrás, antes do início do conclave, a presidente disse em um ato na Casa Rosada "Digam que não existe papisa, senão, disputaria um lugar".

Hoje, depois do anúncio, a presidente deu os parabéns ao cardeal através de sua conta no Twitter, e felicitou o cardeal em nome do Estado e da população argentina.

"É nosso desejo que tenha uma frutífera tarefa pastoral desempenhando grandes responsabilidades em prol da justiça, da igualdade, da fraternidade e da paz da humanidade", disse.

A nota de parabéns foi entregue cerca de duas horas depois da apresentação de Francisco, que faz a oposição ao governo de Cristina. No momento do anúncio do novo pontífice, a mandatária inaugurava um gasoduto na Província de Neuquén, no sul do país.

A reação da mandatária argentina saiu após a reação de autoridades mundiais, governamentais e religiosas, sobre a assunção de Francisco.

Na Câmara dos Deputados, a escolha de Bergoglio provocou discussão. A notícia chegou no meio de uma sessão, na qual os legisladores homenageavam Hugo Chávez.

Julián Domínguez, presidente da casa, fez uma menção ao ocorrido e continuou a homenagem ao presidente da Venezuela, morto na semana passada.

A discussão começou quando deputados da oposição pediram uma interrupção para ver a fala de Bergoglio, proposta que foi rechaçada por deputados da ala governista.

O cardeal Jorge Mario Bergoglio foi escolhido após seis votações no Vaticano, no segundo dia de conclave.


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