Folha de S. Paulo


Opinião: Ilze Scamparini faz falta à CNN na cobertura do papa

Um em cada quatro americanos se declara católico -- 75 milhões de pessoas, ou 7% dos católicos do mundo. Mas a rede de TV CNN, o segundo maior canal de notícias do país, se mostrou pouco preparada para cobrir o conclave.

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Sem informação suficiente para preencher o intervalo de 50 minutos entre a fumaça branca sair do Vaticano e o argentino Jorge Bergoglio ser apresentado ao mundo como papa Francisco, a rede cometeu uma série de gafes.

Christiane Amanpour, célebre por cobrir guerras, lamentou o fato de "nenhuma mulher ter votado na escolha do papa" --algo como lamentar a água ser molhada, já que a Igreja Católica só aceita homens em sua hierarquia.

Enquanto esperavam, repórteres caçavam turistas americanos na multidão na praça São Pedro e perguntava quais seus favoritos --para invariavelmente ouvir o nome de Sean O'Malley, arcebispo de Boston. Por quê? "Porque moro perto de Boston", respondeu um rapaz.

Segundos antes de o nome do papa ser anunciado, a emissora cortou o som. Quando o anúncio foi feito, o vaticanista John Allen Jr, convocado para explicar o processo, não conseguiu ouvir. O apresentador Wolf Blitzer reclamou que o anúncio era em italiano. Allen Jr. o interrompeu: "Acho que ouvi o nome do argentino Bergoglio".

Só quando o papa apareceu na sacada é que a emissora pode confirmar: sim, era o argentino. O primeiro sul-americano a ocupar o posto.

Blitzer passou então a interpelar todos os entrevistados com uma só questão: "o novo papa fala inglês?". Nenhum de seus interlocutores sabia responder, por terem conversado com o cardeal em espanhol e italiano.

"Mas como ele vai se comunicar nos EUA?", indagou um atônito Blitzer. "A maioria dos católicos nos EUA fala espanhol", acorreu Allen.

Gafes sobre a América do Sul tampouco faltaram. "A América do Sul tem seu primeiro papa não-europeu", enrolou-se o apresentador.

Ou ainda: "Grande momento para a América do Sul. Eles têm a Olimpíada. Eles têm a Copa do Mundo. Eles têm o papa", emendou, minutos após uma entrevista com uma fiel mexicana, mostrando que tudo ao sul do Rio Grande -- México, Brasil, Argentina -- lhe é indiscernível.

Quando o papa falou, Blitzer e Allen enxergaram "medo e humildade" em seus olhos. Nenhuma palavra sobre as controvérsias que envolvem o argentino em seu país, apenas reverência à sua "aparente compaixão".

E com o passar dos minutos, o tema América do Sul parece ter perdido a graça. Comentaristas engataram um debate sobre o nome que O'Malley escolheria se fosse ele o papa, e o departamento de artes gráficas da emissora apresentou sua Capela Sistina virtual, cheia de números.

Ilze Scamparini faz falta.


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