Folha de S. Paulo


Relação com EUA seguirá difícil, diz ex-embaixador

"O embaixador ianque em Caracas tem 72 horas para sair da Venezuela -- vão para o caralho, ianques de merda."

Foi assim, durante um comício televisionado ao vivo, que o presidente Hugo Chávez expulsou o embaixador americano na Venezuela, Patrick Duddy, em 11 de setembro de 2008.

Naquele dia, Duddy estava em Washington com sua mulher, que estava no hospital. "Tudo, do meu cachorro até minhas roupas e carro, ainda estava em Caracas. Tivemos que esperar quase dois meses até que minha mulher fosse autorizada a retornar por 72 horas e arrumar nossa mudança", contou Duddy à Folha.

Duddy foi o último embaixador americano em Caracas, de 2007 a 2010. Desde então, os EUA são representados no país por um diplomata de segundo escalão.

Chávez o expulsou logo depois que o presidente boliviano Evo Morales fez o mesmo com o embaixador americano no país, "por solidariedade".

Depois de nove meses, após negociações para restabelecer relações diplomáticas, Duddy voltou a Caracas e completou seu período como embaixador.

Ele se aposentou e hoje é professor de Relações Internacionais na Universidade Duke.

*

Folha -- O que o senhor sentiu quando soube da morte de Chávez?

Patrick Duddy -- Pouco depois de eu deixar Caracas, recebi um diagnóstico de câncer na garganta, em 2011. Então fiquei bastante sensível ao sofrimento que a doença representou para Chávez, sua família e apoiadores. Ao mesmo tempo, foi um crítico duro e implacável dos EUA.

Como vai evoluir a relação entre Venezuela e EUA?

Será um processo difícil, como demonstrou o vice-presidente Nicolas Maduro ao expulsar dois adidos militares na embaixada americana pouco antes de anunciar a morte de Chávez. Seria uma surpresa se ele fizesse mudanças dramáticas. Chávez e Maduro têm personalidades muito diferentes, mas o vice-presidente é aliado de Chávez há muitos anos, foi chanceler por anos, e era frequentemente tão crítico dos EUA quanto o presidente era.

Qual é a possibilidade de a oposição vencer?

Os venezuelanos irão votar enquanto ainda estão de luto. Isso, aliado ao fato de Chávez ter apoiado publicamente Maduro, dá ao vice-presidente uma vantagem na eleição.

Você acha que, como não existe mais a figura polarizadora de Chávez, os EUA vão ligar cada vez menos para a Venezuela?

É difícil dizer. Muitos estão aguardando para saber qual será o destino do chavismo sem Hugo Chávez. Eu acho que os chavistas estão entrincheirados no governo, depois de 14 anos.


Endereço da página: