Folha de S. Paulo


Panetta diz que EUA manterão ganhos obtidos no Iraque; leia íntegra

Em dezembro de 2011, o então secretário da Defesa dos EUA, Leon Panetta, foi ao Iraque acompanhar a retirada das tropas e o encerramento da missão no Iraque, iniciada oito anos antes.

Leia abaixo a íntegra do discurso feito por ele no aeroporto de Bagdá, no dia 15 daquele mês:

"É uma honra profunda estar aqui em Bagdá e ter a oportunidade de participar desta cerimônia comovente, nesta ocasião muito histórica para o povo iraquiano e o povo americano.

Nenhum discurso, nenhuma cerimônia, poderia render homenagem plena aos sacrifícios que resultaram neste dia. Isso me traz à mente o que o presidente Lincoln disse em Gettysburg, sobre uma guerra diferente, num tempo diferente. As palavras com que ele prestou homenagem aos mortos naquela guerra ecoam através dos anos quando hoje homenageamos os mortos nesta guerra: "O mundo não notará muito nem se recordará por muito tempo do que dizemos aqui, mas jamais poderá esquecer o que eles aqui fizeram".

Hoje somos honrados com a presença de tantos convidados distintos dos governos iraquiano e americano.

Veja vídeo

Aos distintos membros do governo iraquiano e das Forças Armadas iraquianas, obrigado por sua coragem, por sua liderança, por sua amizade ao longo desses muitos anos. O que é mais importante, obrigado por sua lealdade para com o futuro do Iraque. Seu sonho de um Iraque independente e soberano hoje é realidade.

Somos profundamente afortunados porque, além de todos os grandes comandantes que lideraram nossas tropas aqui, há dois grandes americanos que se apresentaram para liderar esta missão nesta transição final. Hoje homenageamos esses dois tesouros nacionais: o embaixador Jeffrey e o general Austin.

Jim, quero agradecer a você por seus conselhos sábios e sua diplomacia brilhante, num momento que exigiu as duas coisas. Lloyd, nossa nação lhe deve gratidão máxima por seu compromisso incansável com esta missão, através de vários períodos extensos servindo aqui. Quero oferecer a você meu agradecimento mais profundo, em nome do povo americano, por ter assumido este fardo da liderança.

Lloyd, seu esforço para converter este dia em realidade não é nada menos que milagroso. Foi um dos empreendimentos logísticos mais complexos da história militar dos EUA --50 mil soldados americanos retirados sem percalços, dezenas de bases fechadas ou entregues, milhões de peças de equipamento que precisaram ser transferidas--, ao mesmo tempo em que foram protegidas a segurança de nossas forças e a segurança da população iraquiana.

Lloyd, agora você se reunirá no Pentágono com alguém cuja liderança hábil durante um momento crítico neste esforço de guerra ajudou a possibilitar seu sucesso último: o chefe do Estado-Maior do Exército dos EUA, Ray Odierno. Juntamente com Ray, você, agora, como vice-chefe do Estado-Maior, vai conduzir o Exército em um importante momento de transição. Você faz parte de uma geração de líderes de valor comprovado na batalha e que agora assumiram as rédeas de nossa segurança nacional.

Não tenho palavras para lhe dizer quanto nos beneficiamos dessa grande experiência. Lloyd, sei que você, juntamente com Ray Odierno e Marty Dempsey, que combateu neste conflito, vão assegurar que, enquanto enfrentamos novos desafios estratégicos, não nos esqueçamos das lições da guerra.

Também não nos esqueceremos jamais dos sacrifícios feitos por mais de 1 milhão de homens e mulheres das Forças Armadas dos EUA que serviram no Iraque e dos sacrifícios feitos por suas famílias. Ao longo de um período de serviço após outro, as famílias suportaram a tensão, o sacrifício e o sofrimento de ver seus entes queridos partindo para a guerra. Os entes queridos combateram em lugares como Fallujah, Ramadi, Sadr City e outros. E hoje, em especial, nos recordamos dos quase 4.500 bravos americanos que fizeram o sacrifício máximo por seu país, além dos mais de 30 mil guerreiros feridos, muitos dos quais ainda enfrentam lesões graves, que alteraram suas vidas.

A todos os homens e mulheres de uniforme hoje: sua nação tem uma dívida profunda para com vocês. Vocês fizeram tudo o que sua nação lhes pediu, e mais. Sua dedicação, seu compromisso com esta missão têm sido a força motriz por trás dos progressos notáveis que pudemos ver aqui em Bagdá e em todo este país.

Vocês vieram para esta "Terra Entre os Rios", e voltaram mais de uma vez. Não sabiam se retornariam a seus entres queridos. Vocês partem com orgulho profundo --orgulho duradouro--, cientes de que seu sacrifício ajudou o povo iraquiano a começar um novo capítulo na história, livre da tirania e cheio de esperança de prosperidade e paz, especialmente para as gerações futuras deste país.

Este resultado nunca foi certo, especialmente durante os períodos mais sombrios da guerra. Em 2006, como membro do Grupo de Estudos sobre o Iraque do presidente Bush, viajei para cá num momento em que a violência sectária estava no auge e parecia que nada estava funcionando. O Iraque enfrentava turbulência, violência e incerteza.

Hoje, cerca de cinco anos mais tarde e depois de muito sangue ter sido derramado por iraquianos e americanos, a missão de um Iraque capaz de governar-se e responsabilizar-se por sua própria segurança se concretizou: o exército e a polícia iraquianos foram reconstruídos e são capazes de responder às ameaças; os níveis de violência diminuíram; a Al Qaeda foi enfraquecida; o estado de direito foi fortalecido; as oportunidades educacionais foram ampliadas, e o crescimento econômico está aumentando, também.

E esse progresso foi mantido ao mesmo tempo em que retiramos quase 150 mil membros das forças de combate dos EUA deste país.

Com a saída das forças americanas remanescentes, nestes poucos dias que restam até o final do ano, saudamos o fato de que o Iraque hoje é plenamente responsável por dirigir seu próprio caminho rumo à segurança e prosperidade futuras.

É verdade que o custo foi alto --o sangue e o Tesouro dos EUA, e também do povo iraquiano. Mas essas vidas não foram perdidas em vão --elas deram à luz um Iraque independente, livre e soberano. E, devido aos sacrifícios feitos, estes anos de guerra agora renderam uma nova era de oportunidades. Juntamente com o povo iraquiano, os EUA saúdam a próxima etapa nas relações entre EUA e Iraque, uma etapa que será fundamentada no interesse mútuo e respeito mútuo.

Falarei com clareza: o Iraque será posto à prova nos dias que estão por vir --pelo terrorismo, por aqueles que buscam dividir, por questões econômicas e sociais, pelas demandas da própria democracia. Ainda restam desafios, mas os EUA estarão presentes para apoiar a população iraquiana enquanto ela se orienta entre esses desafios, para construir uma nação mais próspera e forte.

Com esse fim em vista, os EUA estão aprofundando nosso relacionamento com o Iraque por meio de nosso Escritório de Cooperação em Segurança, e as Forças de Segurança do Iraque vão levar adiante a parceria com o Comando Central dos EUA, liderado pelo general Jim Mattis.

Os EUA vão conservar uma presença diplomática importante aqui no Iraque. Vamos continuar a ajudar o Iraque a enfrentar o extremismo violento e a defender-se contra ameaças externas. Vamos continuar a ter uma presença militar robusta e duradoura em todo o Oriente Médio. Não vamos dar as costas a tudo o que foi sacrificado e conquistado, e não vamos permitir que aqueles que buscam solapar o sucesso tenham êxito em seus intentos.

Em última análise, porém, o que importa aqui não são os EUA. É o Iraque. Este é um momento para o Iraque olhar para frente. Esta é uma oportunidade para o Iraque avançar no caminho para a segurança e a prosperidade. E empreendemos essa transição hoje, lembrando ao Iraque que ele tem nos EUA um aliado e parceiro engajado. Não fracassar é o que devemos a todas as vidas que foram sacrificadas nesta guerra.

Acredito que o sonho fundamental de toda a humanidade é poder dar uma vida melhor a nossos filhos. Hoje o povo iraquiano chega mais perto de realizar esse sonho, e os iraquianos podem orgulhar-se em saber que, graças ao serviço prestado e o sacrifício feito por tantos bravos guerreiros, seus filhos terão esse futuro melhor. Essa é a recompensa que todos prezamos neste dia histórico. Este não é o fim, este é verdadeiramente o começo.

Que Deus abençoe nossas tropas, que Deus abençoe a América e que Deus abençoe o Iraque, seu povo e seu futuro."

Tradução de CLARA ALLAIN


Endereço da página:

Links no texto: