Folha de S. Paulo


Análise: Vendida como o martírio do líder, agonia final dará força a Maduro

Hugo Chávez organizou a política venezuelana até para além de sua morte.

Parece inevitável concluir que, ao partir para Cuba para o que seria sua última cirurgia, o presidente já sabia da gravidade de sua situação e preparou cuidadosamente a sua sucessão.

Primeiro, ele designou Nicolás Maduro como o seu sucessor, antecipando-se a uma mais que provável guerra interna no chavismo.

Está dando certo: no papel de presidente interino e abençoado por Chávez, Maduro se tornou nos últimos dois meses a face do chavismo para o púbico venezuelano. Isso claramente lhe dá imensa vantagem para a eleição, que agora é inevitável.

Vantagem que só se acentuará pelo martírio do líder, como o regime vendeu a seus fiéis a agonia de Chávez.

Some-se às manobras do governo a impotência da oposição e torna-se mais que lógico apostar em que o chavismo terá uma sobrevida mesmo com Chávez morto.

Há analistas que acreditam que a sobrevida não será apenas de curto ou médio prazo. Joaquín Villalobos, que foi guerrilheiro em El Salvador e depois tornou-se consultor de segurança e um agudo analista político, escreveu faz pouco para o jornal espanhol "El País":

"A força do chavismo não está na eficácia para governar, mas no fato de que o regime mudou a orientação dos benefícios da renda do petróleo na Venezuela. Antes, esta se distribuía mais para cima do que para baixo. Chávez abriu espaços de inclusão social para os mais pobres, gerou opções de enriquecimento para novas elites e propiciou a esses setores identidade política e poder. Isso mudou a Venezuela para sempre".

Para sempre é uma aposta arriscada, mas, para o próximo período presidencial, dá, sim, para acreditar que o chavismo se manterá vivo.

Mas, além dele, vai depender da eficácia para governar que Hugo Chávez não precisou mostrar, porque seu carisma e os espaços de inclusão social que abriu compensaram, com folga, os problemas que criou.

Entre eles, estão a inflação mais alta de toda a América Latina e um índice de criminalidade insuportável.


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