Folha de S. Paulo


Dissidente cubana faz debate acalorado na Bahia, mas sem tumultos

Com segurança reforçada e sem tumulto ou obstruções, a blogueira Yoani Sánchez debateu nesta terça-feira com militantes pró-governo de Cuba diante de mais de 2000 pessoas em Feira de Santana (BA).

Logo na chegada, um dos chefes da segurança do evento, num espaço do grupo educacional privado Nobre, avisou à comitiva de Sánchez: "Já falamos com os manifestantes. Temos um grupo [de segurança] ostensivo e se preciso vamos usar a força".

Não houve incidentes.

Por pouco mais de uma hora, a ativista discursou e respondeu a perguntas e questionamentos exaltados integrantes de movimentos sociais e estudantes ligados ao PSOL e ao PT que se inscreveram para intervir.

O clima foi acalorado, mas bastante distinto da noite anterior, quando manifestantes, aos gritos, tumultuaram e acabaram impedindo a exibição do filme "Conexão Cuba > Honduras", do cineasta baiano Dado Galvão, um dos promotores da visita de Sánchez à cidade.

À diferença da segunda-feira, a grande maioria era simpática à blogueira. Os manifestantes exibiram, a maior parte do tempo em silêncio, cartazes acusando Sánchez de "mercenária" e paga pela CIA. O PSOL estampou: a grande mídia, que apoiou a ditadura, "está do lado de Yoani Sánchez. Por que será?"

O primeiro estudante a falar criticou Sánchez, a grande mídia e, terminado o tempo previsto, teve o microfone cortado e depois religado. A certo momento ouviu da platéia "palhaço!", "palhaço", mas arrematou a pergunta.

"A correlação de forças é outra", disse Jader Dourado, do Movimento de Luta nos bairros e ex-candidato a vereador pelo PT e presente nos dois protestos contra a blogueira em Feira de Santana. "O que fizemos ontem [na segunda-feira] foi democratizar o evento. Colocamos um contraponto", disse ele.

"Em Cuba não temos socialismo, temos um capitalismo de Estado de corte familiar", respondeu a blogueira a uma militante que lhe perguntou se havia socialismo na ilha.

A estudante queria saber ainda se ela achava que os governantes haviam seguido as idéias originais de Che Guevara. Sánchez ignorou essa parte da pergunta.

Outros rounds se sucederiam, como quando a estudante de medicina Ana Karen de Oliveira questionou a blogueira sobre suas ligações com as "grandes corporações de mídia" - Sánchez ganhou vários prêmios de defesa de liberdade de imprensa e é correspondente do jornal espanhol "El País".

"Ela não me respondeu. Só disse que tem um blog independente", queixou-se Oliveira, que passou um mês em Cuba no ano passado "para conhecer o sistema político". "Não fiquei satifeita. O povo gritava muito e o tempo era curto", queixou-se.

A blogueira cubana, quase sem voz ao final do evento, comemorou: "Foi muito interessante, muita energia", disse. Ela nunca havia falado para uma platéia tão grande antes.


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