A blogueira opositora cubana Yoani Sánchez terá de desembarcar em Salvador por uma porta alternativa devido a protestos a favor de Cuba no saguão do Aeroporto Internacional Luís Eduardo Magalhães, na capital baiana.
Blogueira cubana é recebida com protesto no Recife
Yoani diz estar acostumada a calúnias e espionagens
No Brasil, Yoani usa tablet pela primeira vez e elogia "conexão rápida"
Yoani já havia sofrido com manifestações de aliados ao regime cubano no Recife, onde desembarcou por volta da 0h30 desta segunda-feira. Ela saiu na tarde de domingo de Havana e fez uma conexão na Cidade do Panamá, em sua primeira viagem internacional após quatro anos de proibição.
Na saída do desembarque, manifestantes da União das Juventudes Socialistas (UJS) fizeram um ato de repúdio à presença da blogueira, a quem chamaram de mercenária, e gritaram palavras de ordem, como "Cuba sim, ianque não".
Os manifestantes eram pessoas vinculadas a ONGs de esquerda, organizações ligadas a Cuba e associações estudantis. Não chegavam a 20 no aeroporto de Salvador.
"Yoani é uma liderança fabricada pela CIA", disse Caio Botelho, da UJS.
Horas antes, outros aliados de Cuba protestaram no Recife. Na capital pernambucana, os manifestantes leram uma carta aberta na qual diziam que o blog dela é um meio de desinformação e que faz uma campanha anti-Cuba. Eles também jogaram dólares falsos em direção à dissidente.
O protesto não aborreceu Yoani, que disse que gostaria muito que em seu país as pessoas pudessem fazer o mesmo. "Foi um banho de democracia e pluralidade, estou muito feliz e queria que em meu país pudéssemos expressar opiniões e propostas diferentes com esta liberdade", disse.
CINEASTA
No aeroporto, Yoani também foi recebida por Dado Galvão, diretor do documentário "Conexão Cuba Honduras", no qual é entrevistada, e cerca de dez pessoas, entre elas, o blogueiro cubano George Hernandez Fonseca, que vive no Pará.
A visita é a primeira de uma série viagens que começa pelo Brasil e a levará também a República Tcheca, Espanha, México, Estados Unidos, Holanda, Alemanha, Peru entre outros. Nos últimos cinco anos, Yoani havia recebido mais de 20 recusas para poder viajar ao exterior.
Com o sentimento de ter "ganhado uma pequena vitória pessoal, jornalística, cidadã e jurídica" a autora do blog "geração Y" disse ter a impressão de estar vivendo "um sonho".
"É uma vitória limitada, porque a reforma migratória de Cuba ainda não contempla a possibilidade de entrar e sair da ilha como um direito inerente pelo mero fato de ter nascido neste país", disse a blogueira em entrevista no aeroporto de Havana.
Yoani Sánchez afirmou que sua principal bagagem é seu desejo de se conectar livremente à internet e de conhecer o mundo e sua realidade "com seus claros e escuros". "O mais importante não levo na mala, levo aqui", disse a blogueira, apontando para sua cabeça.
Em janeiro, as autoridades cubanas outorgaram a Sánchez o passaporte que ela solicitou após a nova reforma migratória que flexibiliza as viagens dos cubanos ao exterior e eliminou embaraçosos e custosos trâmites como a permissão de saída para fora do país.
Embora ainda estejam vigentes algumas restrições nas idas ao exterior para os cubanos, nos últimos dias puderam viajar sem problemas alguns críticos do regime como o engenheiro de computação Eliécer Ávila e Rosa María Payá, filha do falecido opositor Oswaldo Payá.
Com informações de BRUNO BASTOS, colaboração para a Folha no Recife.