Folha de S. Paulo


Comissão na ONU diz que tem lista de criminosos de guerra na Síria

A Comissão de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) informou nesta segunda-feira que possui uma lista de supostos criminosos de guerra pelo conflito na Síria, em seu último relatório sobre a crise no país árabe.

A organização internacional diz que mais de 70 mil pessoas morreram desde março de 2011 devido aos confrontos entre rebeldes e as forças do ditador Bashar Assad. O conflito deixou outros 5 milhões de refugiados, sendo que 700 mil saíram do país.

A lista não foi revelada pelos integrantes da comissão, que é liderada pelo brasileiro Paulo Pinheiro, mas incluem membros do regime sírio e da oposição. A comissão pede que o Conselho de Segurança atue para que estes acusados sejam julgados pelo Tribunal Penal Internacional.

"O Tribunal Penal Internacional é a instituição apropriada para a luta contra a impunidade na Síria. Como uma estrutura estabelecida e de amplo apoio, poderia iniciar imediatamente as investigações contra os autores de crimes sérios na Síria".

Uma das integrantes da comissão, Karen Konig AbuZayd, disse que, apesar da orientação, não está otimista com a união do Conselho de Segurança para que os acusados por crimes de guerra sejam julgados. Durante os 23 meses do conflito, Rússia e China vetaram três resoluções contra o regime de Bashar Assad.

AMEAÇAS

No documento, de 445 páginas, a comissão voltou a dizer que o conflito na Síria pode se espalhar por outros países da região e afetar várias gerações, devido ao número de mortes e aos confrontos sectários entre os alauitas (aliados de Assad) e os sunitas, que compõem a maioria dos rebeldes.

"A profundidade da tragédia síria se reflete de maneira dolorosa no número de vítimas. As experiências atrozes relatadas pelos sobreviventes revelam violações dos direitos humanos, crimes de guerra e crimes contra a humanidade".

A Comissão não viajou à Síria, devido ao aumento da violência e à retirada do pessoal da ONU não essencial do país. Porém, ouviu mais de 400 pessoas, a maioria delas vítimas da violência, em diversas cidades do país.

Neste novo documento, a comissão afirma que a situação se agravou, em uma espiral de violência. "O conflito é cada vez mais sectário, com operações cada vez mais radicais e militarizadas", afirma o relatório.

A comissão ainda afirmou que o regime sírio usou bombas de fragmentação contra os rebeldes, mas descartou a aplicação de armas químicas, como levantado por diplomatas dos Estados Unidos e do Reino Unido nos últimos meses.

As potências ocidentais afirmam que fariam uma intervenção na Síria em caso de uso de bombas químicas, o que ainda não foi confirmado.


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