Folha de S. Paulo


Bento 16 tem perfil mais intelectual do que administrativo, diz Frei Betto

O frade dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, disse nesta segunda-feira (11) que o papa Bento 16 tem perfil mais intelectual do que administrativo e que agora ele poderá se dedicar mais às suas atividades como teólogo.

Bento 16 anunciou hoje que renunciará ao Pontificado no dia 28 de fevereiro. Esta é a primeira vez em quase seis séculos que um papa renuncia ao cargo. O último fazer isso foi Gregório 12, em 1415.

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"Ele era um teólogo. Papas não escrevem livros, mas assinam documentos. Este escreveu uma trilogia sobre Jesus. Acho que, desde o início, ele devia estar pensando nos livros que não estava lendo, e nos que não estava escrevendo", disse o frade em entrevista por telefone à Folha.

Frei Betto disse considerar "um ato de humildade" a decisão do papa de renunciar ao cargo vitalício. "É um grande ato de humildade que não me surpreendeu, porque trabalho intelectual e tarefas administrativas não combinam. E ele é um intelectual."

"Imagina o papa querendo ler um livro de teologia e ter que administrar o escândalo de pedofilia em Boston", disse. "É muito difícil nessa idade conciliar a vida intelectual e administrativa."

Na opinião do frade, o pontificado de Bento 16 foi muito desgastado por denúncias de pedofilia, denúncias de corrupção e pelo fato de ele ter seguido os passos de João Paulo 2º de "manter a sete chaves os temas tabus da Igreja, como o celibato, a união civil de homossexuais e o uso de preservativos".

Adepto à Teologia da Libertação -- linha de pensamento que buscava unir princípios do catolicismo ao marxismo, no início dos anos 1980--, Frei Betto disse esperar que o próximo papa permita mais diálogo sobre esses temas considerados tabus.

"Interessa que seja uma pessoa aberta à adequação da Igreja ao mundo em que estamos, que seja uma Igreja atualizada, que promova esse diálogo com o mundo pós-moderno e que dialogue com a ciência", disse o frade.

Questionado se tem algum palpite sobre quem poderá ser o papa eleito, Frei Betto disse que os candidatos latino-americanos "entram com força, porque a América Latina abriga o maior número de católicos do mundo".

Cinco cardeais brasileiros deverão participar do conclave para eleger o sucessor de Bento 16, no Vaticano, formado por 119 cardeais. O Brasil tem um total de nove integrantes no Colégio Cardinalício do Vaticano, mas quatro deles já ultrapassaram a idade limite. Para poder votar na escolha do papa, o cardeal precisa ter menos de 80 anos.


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