Folha de S. Paulo


Líder na corrida paraguaia é alvo de denúncias e investe na imagem de 'bom patrão'

"O problema do Paraguai é emprego, e nossa família sabe produzi-lo e tratar com dignidade os empregados."

Essa foi a principal credencial apresentada pelo empresário Horácio Cartes quando perguntado pela Folha, em junho passado, sobre suas aspirações à Presidência.

Agora, como candidato que lidera as pesquisas para as eleições de abril -com 37% das intenções de voto-, segue apostando na imagem do "bom patrão" para convencer os paraguaios de que é hora de os colorados -derrotados por Fernando Lugo em 2008, após 60 anos no poder- voltarem ao Palácio de López.

Dono de um conglomerado de 26 empresas -a maioria no ramo de cigarros-, e presidente do clube de futebol Libertad (atual campeão paraguaio), Cartes, 56, é um dos homens mais poderosos e controversos do país, que vive sob a sombra de acusações de ligação com o narcotráfico e lavagem de dinheiro.

Em 2008, com a derrota colorada, viu uma oportunidade na política e avançou no partido justamente por dar à legenda o que ela mais precisava na época: dinheiro.

"Quando caiu, o Partido Colorado ficou sem os recursos [do Estado], sem conseguir nomear pessoas para cargos, sem [poder negociar] concessões de estradas. Cartes aparece como financiador direto de todos os gastos do partido", afirma a analista política Milda Rivarola.

Cartes começou financiando os colorados nas eleições municipais de 2010, e a mídia paraguaia especula em dezenas de milhões de dólares os investimentos na própria campanha. No entanto, sempre desconversa quando o assunto é sua fortuna. "Troco 100% do que tenho por 1% do que dizem que tenho", disse ao jornal "ABC Color", em 2011.

DENÚNCIAS

Também costumava desconversar quando confrontado com denúncias -agora não pode mais. Em seu site de campanha, destina um espaço apenas para tentar responder as acusações contra ele.

Entre elas, está a de que, há 30 anos, obteve dólares por um preço preferencial do Banco Central paraguaio para vendê-los na cotação paralela.

Segundo seus advogados, ele se apresentou ao juiz da causa e chegou a ser detido no fim dos anos 80. A campanha cita ainda um processo aberto na Justiça brasileira em 2004 por remessa irregular de divisas, envolvendo o Banco Amambay (de sua família), e argumenta que Cartes "não foi diretamente processado".

Porém, seu nome também é citado no relatório da CPI da Pirataria, de 2004, pelo envolvimento da sua empresa Tabesa no contrabando de cigarros para o Brasil. Ainda aparece, em telegrama de 2010 vazado pelo WikiLeaks, supostamente ligado a uma rede de lavagem de dinheiro e narcotráfico. Procurado pela Folha, Cartes não se pronunciou sobre as acusações.

Sempre cercado por seguranças, o empresário alimenta um misto de fidelidade e medo entre seus subordinados e companheiros de legenda. Foi acusado por Lugo de ter arquitetado um "golpe" que resultou em seu impeachment-relâmpago, em junho.

Dentro do Partido Colorado, gerou divisões e chegou a pedir a saída da líder da legenda, Lilian Samaniego, com quem trocava farpas publicamente até agosto passado.

É o favorito para as eleições de 21 de abril -que têm apenas um turno- separado por mais de 10 pontos do segundo colocado, o liberal Efraín Alegre. É possível ainda que receba parte dos votos do general Lino Oviedo, que tinha 7% das intenções e morreu num acidente de helicóptero há oito dias.

Tem o apoio do empresariado e de proprietários de terras, especialmente brasiguaios -a quem Cartes, em bom "portunhol", não perde a oportunidade de elogiar pelo "trabalho realizado no país".

MENEM E BERLUSCONI

Há quem tema uma fusão de interesses entre um Cartes presidente e o Cartes empresário. "Ele é uma mescla de [Carlos] Menem e [Silvio] Berlusconi. Entendo que seu projeto é privatizar, usar o Estado paraguaio como plataforma para muitos de seus negócios lá fora", diz Rivarola.

Divorciado de María Montaña, com quem teve Juan Pablo, 28, Sofía, 25, e María Sol, 15, já disse "não recomendar a separação a ninguém".

Se chegar solteiro ao Palácio de López, já anunciou, em tom de campanha: "a primeira-dama será a pátria".


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