Folha de S. Paulo


Polícia da Tunísia lança gás lacrimogêneo em enterro de oposicionista

Dezenas de milhares de tunisianos saíram às ruas nesta sexta-feira, em meio a atos esporádicos de violência, para acompanhar o funeral do líder da oposição Chokri Belaid, cujo assassinato aprofundou a crise política na Tunísia. Enfrentando chuva fria, pelo menos 50 mil pessoas compareceram ao enterro de Belaid em seu distrito natal de Jebel al Jaloud, na capital, entoando slogans anti-islamistas e contra o governo.

Foi o maior funeral da Tunísia desde a morte, em 2000, de Habib Bourguiba, líder da independência e primeiro presidente do país.

Uma multidão se reuniu ao redor de um carro aberto do Exército que levava o caixão de Belaid, envolto em uma bandeira vermelha e branca da Tunísia, de um centro cultural em Jebel al Jaloud ao frondoso cemitério de Jallaz, ao mesmo tempo que um helicóptero das forças de segurança sobrevoava o local.

Houve confronto. A polícia precisou lançar gás lacrimogêneo e disparar tiros para o ar para dispersar jovens que estavam quebrando carros perto do cemitério, forçando alguns participantes do funeral a fugir da fumaça sufocante. A polícia também usou gás lacrimogêneo contra manifestantes em frente ao Ministério do Interior.

O porta-voz do Ministério do Interior, Khaled Trush, disse na TV estatal que a polícia se viu obrigada a atuar contra um grupo de "vândalos que tentaram depredar vários veículos e comércios".

Berço das revoltas da chamada Primavera Árabe, a Tunísia está mergulhada em tensão por causa das disputas entre grupos islamistas, que têm maioria, e seus oponentes seculares, assim como pela frustração com a falta de progresso social e econômico desde a deposição do ditador Zine al Abidine Ben Ali foi deposto, em 2011.

"O povo quer uma nova revolução", gritavam participantes do funeral, em Túnis, que também cantaram o hino nacional.

O principal sindicato da Tunísia, a União Geral de Trabalhadores Tunisianos (UGTT), e os partidos da oposição convocaram para esta sexta-feira uma greve geral coincidindo com o enterro de Bel Aid, dia de luto nacional.

Na tentativa de conter a reação à morte de Belaid, na quarta, o premiê Hamid Jebali anunciou a dissolução do governo e a formação de um gabinete emergencial de tecnocratas antes da convocação de eleições. Porém, o partido dele, o Nahda, rejeitou as medidas.

Cerca de 50 deputados opositores anunciaram ontem que suspendiam temporariamente sua representação e se retiravam da sessão extraordinária que era realizada pela Assembleia Nacional Constituinte, convocada para discutir a crise suscitada após a morte de Belaid.

CRIME

Belaid foi assassinado na frente da sua casa, em Túnis, por um motociclista que fugiu. Ninguém reivindicou a autoria do crime. Apesar disso, uma multidão ateou fogo à sede do Nahda, que formou a maior bancada nas eleições legislativas de 16 meses atrás, as primeiras no país depois da revolução que derrubou o ditador Zine al Abidine Ben Ali.

Belaid era um advogado esquerdista que tinha relativamente poucos seguidores políticos, mas que falava por muitos que temem restrições de radicais religiosos às liberdades conquistadas recentemente.


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