Folha de S. Paulo


Líder supremo do Irã recusa diálogo com EUA sobre programa nuclear

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, recusou nesta quinta-feira um diálogo direto com os Estados Unidos sobre o programa nuclear da República Islâmica. A proposta foi feita no início da semana pelo vice-presidente americano, Joe Biden.

A intenção de Biden era tentar negociar com Teerã o fim ou a suspensão do enriquecimento de urânio, a fim de evitar a criação de uma bomba atômica. Os iranianos negam que tenham intenções militares com seu programa nuclear, mas impedem o acesso às instalações atômicas, o que aumenta a dúvida.

Em discurso a membros da Força Aérea, Ali Khamenei afirmou que as negociações não resolverão o problema e chamou de ingênuos os que acreditam no diálogo entre os dois países. "Se algumas pessoas quiserem a volta do domínio americano, o país se levantará contra elas."

Ele disse que o país não tentará negociar sob o que chama de pressão e intimidação dos americanos. "A política americana no Oriente Médio foi destruída e eles agora precisam jogar com cartas novas que estão arrastando as negociações. Eles querem negociar enquanto apontam uma arma contra o Irã."

A proposta de Biden foi feita no sábado, durante reunião em Munique, na Alemanha. "Esta oferta continua de pé, mas precisa ser real e tangível", disse.

Caso fosse aplicada, seria a primeira vez que os dois países teriam alguma relação diplomática desde abril de 1980, meses após o ataque à embaixada americana em Teerã.

POLÍTICA INTERNA

No mesmo discurso, Khamenei ordenou que os principais líderes políticos do país parem de brigar, em referência ao presidente Mahmoud Ahmadinejad e o líder do Legislativo, Ari Larijani.

Os dois adversários políticos disputam a influência para poder eleger o próximo chefe do Executivo, nas eleições de junho. "Os servidores devem considerar o interesse nacional e colocar suas rixas em segundo plano".

No domingo, os deputados sob comando de Ali Larijani aprovaram o impeachment do ministro do Trabalho por ter dado um alto cargo ao ex-promotor Saeed Mortazavi, aliado de Ahmadinejad. Para defender o Executivo, o chefe do Executivo mostrou um vídeo em que um irmão de Larijani pede propina a Mortazavi.

No dia seguinte, o ex-procurador-geral foi encarcerado, gerando temores de retaliação incontralada por parte de Ahmadinejad, que já ameaçou revelar segredos que comprometeriam boa parte da cúpula do regime.

Em fim de mandato e impedido por lei de se candidatar novamente, Ahmadinejad não esconde sua intenção de emplacar um aliado na disputa presidencial, na qual a candidatura de Ali Larijani é dada como certa.

Nesse contexto conturbado, há relatos, não confirmados, de que o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, interferiu pessoalmente para apaziguar os ânimos e ordenar a libertação de Mortazavi.


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