A Justiça do Irã libertou ontem um aliado do presidente Mahmoud Ahmadinejad que havia sido preso na madrugada de terça em meio ao acirramento das rixas na cúpula do regime a cinco meses da eleição presidencial.
Autoridades até agora não explicaram porque o ex-procurador-geral de Teerã Saeed Mortazavi foi detido nem porque ele acabou solto.
Político linha dura responsabilizado pela tortura e morte de oposicionistas, Mortazavi tornou-se pivô da disputa entre Ahmadinejad e os ultraconservadores irmãos Larijani, que controlam o Legislativo e o Judiciário.
No domingo, os deputados sob comando de Ali Larijani, chefe do Parlamento, aprovaram o impeachment do ministro do Trabalho por ter dado um alto cargo a Mortazavi. Para defender o Executivo, Ahmadinejad foi até o Parlamento e divulgou um vídeo no qual o caçula dos cinco irmãos Larijani supostamente pede propina a Mortazavi em troca de apoio político.
No dia seguinte, o ex-procurador-geral foi encarcerado, gerando temores de retaliação incontralada por parte de Ahmadinejad, que já ameaçou revelar segredos que comprometeriam boa parte da cúpula do regime.
Em fim de mandato e impedido por lei de se candidatar novamente, Ahmadinejad não esconde sua intenção de emplacar um aliado na disputa presidencial, na qual a candidatura de Ali Larijani é dada como certa.
Nesse contexto conturbado, há relatos, não confirmados, de que o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, interferiu pessoalmente para apaziguar os ânimos e ordenar a libertação de Mortazavi.
VÍDEO
Para defender seus aliados, Ahmadinejad exibiu no telão do plenário parlamentar um vídeo onde Fazel, um dos irmãos Larijani, pede propina a Mortazavi em troca da promessa que a influente família passará a apoiar o presidente.
"Se o senhor [Larijani] quiser, posso repassar as 25 horas de gravação", ironizou Ahmadinejad, sob vaias do plenário, pró-Larijani.
O presidente do Parlamento negou estar por trás da proposta a Mortavazi e atacou Ahmadinejad. "O problema é que nosso presidente não respeita os princípios básicos do bom comportamento. Por que discutir isso aqui?", disse Larijani.
Após a prisão de Mortazavi, Ahmadinejad criticou a Justiça por "ir atrás de quem denunciou o crime em vez de prender o criminoso."
O pano de fundo dessa disputa é a eleição presidencial de junho. Impedido por lei de concorrer a um terceiro mandato consecutivo, Ahmadinejad busca emplacar um aliado na disputa. Mas Ali Larijani, provável candidato, tenta minar as chances dos seguidores do presidente.
Com SAMY ADGHIRNI, de Teerã