Folha de S. Paulo


Assad está "disposto a tudo" para se manter no poder, diz ministro sírio

O vice-ministro de Relações Exteriores sírio, Faisal Al Miqdad, afirmou em entrevista divulgada nesta terça-feira (5) pela revista alemã "Der Spiegel", que o ditador, Bashar Assad, "está disposto a tudo" para se manter no poder.

Al Miqdad acrescentou que o presidente sírio seguirá, "custe o que custar", sua guerra contra a oposição "minoritária", que acusa ser formada por islamistas, de mentir quanto aos crimes de guerra cometidos pelas tropas do Exército e de estar armada e ser financiada desde o exterior com o objetivo de combater o regime para o benefício de Israel.

"Só posso alertar os europeus sobre o que representa seguir apoiando estes grupos. Esta gente não luta contra a Síria, mas contra a ordem de todos os Estados civilizados, e em breve lutarão contra seus países", advertiu.

Com relação a isso, Al Miqdad acrescentou que os "ataques" foram "organizados em grande parte fora" da Síria e que "os grupos combatentes contam com bilhões de dólares de alguns estados do golfo [Pérsico]".

O vice-ministro disse que os "ganhadores" de uma eventual vitória da oposição em nível internacional "seriam Israel e Estados Unidos", já que a queda de Assad faria "esquecer o conflito entre israelenses e árabes".

"Israel poderia viver em paz, conservar as Colinas do Golã e Jerusalém, e seguir humilhando os palestinos", acrescentou o vice-ministro sírio, que destacou que o regime de Assad é o único vizinho de Israel que segue defendendo "sua posição" frente a esse Estado.

"A proteção contra Israel é a única explicação", argumentou.

Al Miqdad se mostrou "otimista" e assegurou que o Exército fiel a Assad é "suficientemente forte" para vencer o "ataque de uma aliança de países ocidentais e Estados do golfo [Pérsico]".

"Podemos aguentar o tempo que for necessário", afirmou o vice-ministro.

Além disso, Al Miqdad descartou que Assad possa se exilar no exterior e afirmou que em sua recente visita à Rússia, único aliado real da Síria em nível internacional, essa questão não foi tratada.

O vice-ministro disse que a solução para a guerra civil, que há quase dois anos assola a Síria --que já causou mais de 60 mil mortes e fez com que mais de 600 mil pessoas deixassem suas casas--, seria que "todos" os implicados na guerra civil "se sentem em torno de uma mesa-redonda para fixar o futuro do país".

Al Miqdad reconheceu que o Governo sírio pode ter cometido algum "erro", mas exclusivamente no âmbito socioeconômico, já que as denúncias dos "provocadores" por violações dos direitos humanos são meras "propagandas de guerra".

DIÁLOGO DE TRANSIÇÃO

Na segunda-feira, o líder oposicionista sírio Moaz al Khatib havia pedido a Assad que adotasse uma posição clara sobre a sua iniciativa de diálogo, acrescentando que o objetivo seria pôr fim ao derramamento de sangue e ajudar "o regime a acabar pacificamente".

Em declarações após um encontro com autoridades russas e dos Estados Unidos na Alemanha, Al Khatib disse ao canal de notícias Al Jazeera que as grandes potências não têm uma solução para a guerra na Síria e só os sírios poderiam decidir sobre o caminho a seguir.

"O regime deve tomar uma posição clara [pelo diálogo]. Nós dizemos que vamos estender nossa mão pelo interesse das pessoas e para ajudar o regime a acabar pacificamente", disse ele à emissora, que tem sua sede no Qatar. "Agora a questão está nas mãos do regime."

Nesta terça, porém, em declaração à Associated Press, o congressista governista Fayez Sayegh rejeitou a proposta, afirmando que qualquer diálogo entre as partes deve começar sem precondições. Ele também falou que o número de presos políticos mantidos pelo regime divulgado pelos rebeldes é "exagerado" --embora não tenha dado um número oficial-- e que a libertação destes deve vir "como um resultado do diálogo, e não antes dele".


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