Folha de S. Paulo


Irã diz que Israel vai se arrepender de suposto ataque à Síria

O Irã disse nesta segunda-feira que Israel se arrependerá de ter supostamente bombardeado um alvo militar na Síria e pediu a união dos muçulmanos em todo o mundo para responder ao ataque.

O apelo surge em meio a uma intensa movimentação política iraniana que parece destinada a reforçar a posição de Teerã às vésperas da próxima rodada de conversas nucleares com as grandes potências, no fim do mês.

A ameaça a Israel foi proferida durante visita a Damasco por Saeed Jalili, chefe do Conselho de Segurança Nacional do Irã, e um dos homens de confiança do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei.

"Da mesma maneira em que se arrependeu das agressões nas guerras de 33 dias, 22 dias e oito dias, a entidade sionista irá se arrepender de sua agressão à Síria", disse Jalili.

Ele se referia a conflitos travados por Israel contra os grupos Hamas, palestino, e Hizbollah, libanês, ambos apoiados por Teerã.

"A Síria está na linha frente do mundo islâmico contra o regime sionista, e [os muçulmanos] precisam reagir corretamente à agressão israelense", afirmou, sem detalhar uma possível resposta à recente ação ocorrida na última quarta-feira em circunstâncias não esclarecidas.

A Síria diz que caças israelenses atacaram um base militar perto da fronteira com o Líbano. Os EUA afirmam que o bombardeio alvejou um comboio que seguia rumo a Beirute transportando parte do arsenal de armas químicas do regime sírio que seriam supostamente transferidas ao Hizbollah.

No domingo, Israel assumiu implicitamente a autoria.

"[O ocorrido] mostra que quando dizemos uma coisa, cumprimos. Dissemos que não pensamos que se possa permitir que sistemas sofisticados de armas sejam transferidos ao Líbano", disse o ministro da Defesa, Ehud Barak, durante uma conferência internacional sobre segurança, em Munique.

No mesmo evento, o chanceler do Irã, Ali Akbar Salehi, reiterou o apoio ao regime sírio do ditador Bashar Assad, mas negou o envio de combatentes iranianos à Síria.

Salehi também reiterou que seu governo está disposto a iniciar conversas diretas com os EUA para aumentar as chances de um acordo acerca do programa nuclear iraniano, suspeito de ter fins militares, o que Teerã nega.

As declarações de Salehi e Jalili indicam uma possível dupla estratégia iraniana que consiste em mesclar sinais de endurecimento frente ao Ocidente e acenos apaziguadores antes das negociações marcadas para o dia 25, no Cazaquistão.

É comum o Irã elevar o tom antes de conversas diplomáticas como forma de mostrar que não cederá à pressão. Na semana passada, Teerã anunciou planos de aumentar sua capacidade de enriquecer urânio.

Por outro lado, a república islâmica também vem deixando no ar a disposição em melhorar a relação com os EUA. Analistas advertem, no entanto, que um eventual acordo nuclear é improvável antes da eleição presidencial iraniana, em junho.

O pleito encerrará o governo do controverso Mahmoud Ahmadinejad, impopular no Ocidente e rejeitado por facções iranianas rivais que querem impedi-lo de capitalizar com um eventual alívio da tensão no dossiê atômico.

DANOS

Neste domingo, o jornal americano "The New York Times" afirmou que o suposto ataque israelense provocou danos ao principal centro sírio de investigação de armas biológicas e químicas.

Segundo fontes do Exército dos EUA, os prejuízos foram provocados pelas bombas que eram transportadas no veículo supostamente bombardeado por Israel.

No domingo (3), o ministro da Defesa israelense, Ehud Barak, deu a entender que o ataque aconteceu, mas sem dar mais detalhes.

"Isso que aconteceu há alguns dias mostra que quando dizemos uma coisa, cumprimos. Dissemos que não pensamos que se possa permitir que sistemas sofisticados de armas sejam transferidos ao Líbano".


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