Folha de S. Paulo


Pesquisa mostra divisão de britânicos sobre saída da União Europeia

Os britânicos estão divididos em relação a permanecer ou não na União Europeia, segundo pesquisa do jornal "The Times", divulgada nesta sexta-feira. O estudo mostra empate técnico entre os favoráveis e os contrários à saída do bloco.

A pesquisa foi feita no mesmo dia em que o primeiro-ministro, David Cameron, anunciou a proposta de um plebiscito aos britânicos sobre a continuidade no bloco, que seria convocado até 2017 se seu partido for maioria após a eleição parlamentar de 2015.

A sondagem, realizada pelo instituto Popullus, diz que 40% dos britânicos são a favor de o país deixar a União Europeia, enquanto 37% são contra, preferindo de que Reino Unido permaneça no bloco. O restante (23%) eram indecisos ou pessoas que não souberam ou queriam opinar.

Tirando os indecisos, o levantamento aponta que 53% dos consultados são favoráveis e 47% são contrários, um empate técnico no limite da margem de erro, de três pontos percentuais.

O instituto entrevistou 2.024 eleitores de todo o país na última quarta (23). O "The Times" não arriscou um palpite sobre o resultado, já que o número de indecisos ainda é alto e fatos novos podem influenciar os eleitores.

Na quinta (24), Cameron defendeu a proposta no Fórum Econômico Mundial como uma forma de aumentar a competitividade do Reino Unido. Ele disse que uma união política mais profunda dos 27 membros da UE seria um erro e que é o momento de um novo acordo sobre a Europa.

CRÍTICAS

A proposta do plebiscito foi duramente criticada pela oposição a Cameron e por autoridades europeias. O ex-premiê Tony Blair, trabalhista, chamou o anúncio de "ameaça".

"Dizem que é uma grande tática negociadora, mas me lembra um filme de Mel Brooks, 'Blazing Saddles' ['Banzé no Oeste', em português], no qual o agente coloca uma arma na cabeça e diz: 'se não quiser o que eu quero, me dou um tiro'."

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, defendeu que o Reino Unido continue na União Europeia, mas disse que ainda há tempo para discutir as reclamações e as reformas com as autoridades britânicas.

"Estamos preparados para conversar sobre os desejos britânicos, mas sempre precisamos pensar que há outros países possuem desejos diferentes e devemos determinar um compromisso justo. Nós ainda temos bastante tempo nos próximos meses".

O francês François Hollande também disse preferir a continuidade dos britânicos, mas disse que ser membro da UE exige certas obrigações. A principal citada pelo mandatário é o pacto de solidariedade, que envolve todos os membros do bloco e visa garantir melhores condições aos países mais pobres da região.

O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, disse que o governo britânico está fazendo um jogo perigoso e Londres será a maior prejudicada se mudar a relação com a UE. Para ele, o discurso de Cameron não reflete a realidade europeia, mas as preocupações dos eurocéticos do Partido Conservador.

O único Estado do bloco de 27 países que se mostrou solidário ao projeto foi a República Tcheca, que também estuda a saída da UE. "Entendemos bem as razões da política interna que levaram Cameron a pedir um novo acordo de integração", disse o primeiro-ministro, Peter Necas, que defendeu mais flexibilidade ao grupo.


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