Folha de S. Paulo


Vice de Cameron critica proposta de plebiscito sobre a UE

O vice-premiê britânico, Nick Clegg, foi o primeiro a reagir contra o anúncio do premiê David Cameron de que, se reeleito em 2015, pretende realizar um plebiscito a respeito da permanência do Reino Unido na União Europeia (UE) até 2017. Para o político, a proposta de Cameron mina a já frágil recuperação econômica do país.

O anúncio ocorre em meio ao aumento da insatisfação dos britânicos com o bloco europeu, em especial por causa de suas regras para a cooperação econômica. Londres pede maior autonomia para gerir as economias, enquanto o bloco advoga por mais controle central.

Para o vice-premiê, "anos e anos de incerteza por causa de uma prolongada, mal definida renegociação do nosso lugar na Europa não está no interesse nacional porque afeta o crescimento e o mercado de trabalho." "A maior prioridade do povo britânico é emprego, crescimento, uma economia forte", disse Clegg, em uma entrevista à BBC.

Kerim Okten - 3.mai.11/Efe
Líder trabalhista, Ed Miliband, durante coletiva em Londres; ele não dará apoio ao plebiscito de Cameron
Líder trabalhista, Ed Miliband, durante coletiva em Londres; ele não dará apoio ao plebiscito de Cameron

O líder da oposição, o trabalhista Ed Miliband, descartou apoio à realização da consulta.

Para o político, Cameron está fazendo uma "imensa aposta" com a economia do país ao anunciar que quer revisar seu elo com o bloco. "Ele vai fazer o Reino Unido passar por anos de incerteza e fazer uma grande aposta com a nossa economia", disse. Para o trabalhista, o premiê está "com medo" do Ukip (Partido da Independência do Reino Unido, na sigla em inglês), que é "eurocético".

O ex-premiê Tony Blair, também trabalhista, chamou o anúncio de "ameaça". Para ele, seria "uma loucura" deixar o bloco. "Dizem que é uma grande tática negociadora, mas me lembra um filme de Mel Brooks, 'Blazing Saddles' ['Banzé no Oeste', em português], no qual o agente coloca uma arma na cabeça e diz: 'se não quiser o que eu quero, me dou um tiro'." "O plebiscito se realizaria dentro de quatro ou cinco anos, caso os conservadores sejam reeleitos. Por que não esperar?", indagou.

Outros trabalhistas, como Peter Mandelson, ex-ministro da Empresa, afirmou à BBC que Cameron não saiu em defesa dos interesses nacionais ou da unidade europeia, mas de contentar a ala "eurocética" do seu partido, o Conservador. "Na minha opinião, o que ele faz é tratar a União Europeia como uma cafeteria, se servir com uma bandeja quando entra e sair com o que tem."

O distrito financeiro de Londres, conhecido como City, insistiu que o Reino Unido deve permanecer na UE, para manter sua influência. "O Reino Unido deve continuar sendo membro do mercado único da UE e ter acesso pleno ao processo de tomada de decisões sobre as normas deste mercado", disse o presidente de política da entidade, Mark Boleat.

O deputado conservador "eurocético" Mark Pritchard disse que Cameron é o primeiro chefe de governo, em quase quatro décadas, a oferecer um plebiscito ao povo britânico. "Acho que isso resolve, agora, a questão da Europa para o Partido Conservador."


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