Folha de S. Paulo


Crueldade de caso de estupro fez protesto explodir

Nirbhaya, 23, estudante de fisioterapia, ia ser a primeira pessoa de sua família, de uma casta de agricultores pobres, a ter uma profissão de verdade.

Estuprada por seis homens num ônibus em Déli em 16 de dezembro, ela morreu duas semanas depois. Seu caso fez explodirem os protestos no país.

Nirbhaya concluíra seu curso em Dehradun, ao pé do Himalaia. Estudava das 12h às 17h e trabalhava num call center das 19h às 4h para pagar a faculdade. Voltou a Déli em outubro para procurar estágio, exigência para obter o diploma.

Em Déli, dividia uma casa de dois cômodos com pai, mãe e dois irmãos. O pai era carregador no aeroporto de dia e segurança à noite, ganhando US$ 180 por mês. Quando se formasse, Nirbhaya podia ganhar até US$ 550 por mês.

"Ela beijava minha mão e dizia que ia tirar a gente da pobreza", disse seu pai ao "Wall Street Journal".

Na noite do crime, ela encontrou um amigo, um programador de 28 anos, num shopping para assistir ao filme "A Vida de Pi", que ela adorou. Ele comentou que ela estava muito magrinha: Nirbhaya tinha 1,60 m e pesava só 41 kg.

Na volta, os dois foram para um ponto e pegaram um ônibus. No veículo havia seis amigos moradores de favela próxima. Ram, o motorista, pegara o ônibus para "fazer uma farra" depois de encher a cara em casa. Quatro fingiam que eram passageiros, e um deles se fazia de cobrador.

Segundo o amigo de Nirbhaya relatou à polícia, os homens começaram a fazer comentários sexuais para ela. Deixaram-no inconsciente com uma barra de ferro e estupraram a menina no fundo do ônibus.

Após cerca de 40 minutos, os estupradores atiraram os dois, nus, do ônibus em movimento. Na calçada, a menina estava quase inconsciente, e o amigo gritava pedindo ajuda. Por 20 minutos, muita gente passou e olhou sem parar para ajudar. A polícia demorou mais 25 minutos.

Foram levados a um hospital a 16 km porque o mais próximo, privado, não aceitava vítimas de estupro. De lá, Nirbhaya foi transferida para Cingapura, onde morreu em 29 de dezembro.

"Estupros em série são muito comuns em toda a Índia. É um modo de os homens mostrarem virilidade entre amigos", diz o psicólogo Pulkit Sharma. "Muitas vezes, são cometidos por até 20 homens de casta superior contra uma mulher de casta inferior e não reportados à polícia."

Nirbhaya não é o nome verdadeiro da estudante --a lei indiana proíbe divulgar o nome de vítimas de estupro. Em hindi, a palavra significa "corajosa".

Cinco dos seis estupradores podem ser condenados à morte. Um deles, menor, está a cinco meses de completar 18 anos e terá pena de no máximo três anos numa instituição para delinquentes juvenis.

Foi ele que enfiou uma barra de ferro em Nirbhaya e tirou os intestinos dela para fora. (PCM)


Endereço da página: