Folha de S. Paulo


Sobreviventes dizem que terroristas na Argélia visavam estrangeiros

Os primeiros reféns que saíram do campo de gás de In Amenas, na Argélia, disseram nesta sexta-feira que o alvo dos radicais islâmicos eram os estrangeiros que trabalhavam na instalação. Eles também relatam que os insurgentes parecem vindos de países como Argélia e a Líbia.

Após sequestro, radicais islâmicos prometem mais ataques na Argélia
EUA, Reino Unido e França dizem que sequestro na Argélia continua
Agência de notícias na Mauritânia fica famosa com caso
Análise: País é acusado de jogo duplo no enfrentamento do terrorismo

O francês Alexandre Berceaux, que trabalhava para uma empresa terceirizada, disse que ficou escondido por quase 40 horas embaixo de sua cama. "Coloquei tábuas por todos os lados. Tinha um pouco de comida, algo para beber, mas não sabia quanto tempo ia durar", disse, à rádio Europe 1.

Ele conta que só abriu a proteção criada quando percebeu que os homens que o cercavam eram do Exército e disse que, na saída, os militares encontraram três ingleses no teto falso de um restaurante. Berceaux ainda informou que houve mortes terroristas, estrangeiros e argelinos.

O canal France 24 divulga uma conversa com um técnico argelino que foi identificado como Brahim, que também afirmou que os estrangeiros foram separados e colocados em uma parte controlada pelos islâmicos. Ele diz que ajudou dois colegas, um filipino e um turco, a sair após cortar uma cerca de arame farpado.

"Apesar do nosso medo, nós decidimos tentar a sorte no início de um tiroteio. Cortamos a cerca com alicates e eu e mais umas 50 pessoas corremos para fora da base. Não olhei para trás. A única coisa que eu vi foi um avião sobrevoando a base".

Um outro refém libertado disse ao jornal francês "Le Figaro" que a separação aconteceu quando o Exército argelino começava a cercar a base. Enquanto os estrangeiros foram levados a uma sala, os argelinos ficaram em um saguão.

"Até o momento não temos notícias sobre nossos colegas estrangeiros. [Os terroristas] os usaram como escudo".

Reuters
Reféns de rebeldes em campo de gás na Argélia se cumprimentam após libertação
Reféns de rebeldes em campo de gás na Argélia se cumprimentam após libertação

LIBERAÇÃO

A agência de notícias APS, da Argélia, disse nesta sexta (18) que 30 reféns estrangeiros e outros 77 argelinos ainda estão no campo de gás de In Amenas, no sul do país. Segundo a agência, não é possível saber se essas pessoas estão vivas ou mortas, assim como não há informações sobre suas nacionalidades.

O meio de comunicação confirmou que 573 argelinos e 72 estrangeiros conseguiram fugir após o bombardeio à instalação, na quinta (17). A APS informa que 18 dos 30 terroristas que estavam na usina foram mortos.

Por outro lado, a agência de notícias ANI, da Mauritânia, informou que os rebeldes exigiram uma troca de dois reféns americanos pela liberação do egípcio Sheikh Omar Abdel-Rahman e do paquistanês Aafia Siddiqui, presos nos Estados Unidos e condenados por terrorismo.

Em vídeo, Mokhtar Belmokhtar, líder do grupo Batalhão de Sangue, diz que oferece trocas similares à França e à Argélia para negociar o fim da guerra no norte do Mali. A agência da Mauritânia é a única que recebe informações dos rebeldes. A autenticidade do vídeo não pôde ser verificada.

Os rebeldes dizem que a ação é uma represália contra a intervenção francesa no Mali, cujo norte está dominado há seis meses por radicais islâmicos. No entanto, o Ministério de Relações Exteriores da França disse duvidar que a ação tenha sido planejada após o envio de tropas, há uma semana.

O sequestro gerou a preocupação de países como Estados Unidos, Reino Unido, França e Japão, que estão entre os Estados com maior número de reféns no campo de gás, além dos argelinos. Washington e Londres ainda criticaram o governo local pela falta de informações precisas.

Danilo Bandeira/Editoria de arte/Folhapress

Endereço da página:

Links no texto: