Folha de S. Paulo


Saiba mais: quem são os yazidi

Os atentados cometidos ontem no norte do Iraque, que mataram 200 pessoas, atingiram a minoria Yazidi, um grupo de orientação pré-islâmica que tenta sobreviver à violência confessional que aflige o país.

A comunidade, cujos membros são estimados em cerca de 500 mil, é uma minoria religiosa de língua curda que se estabeleceu no norte do Iraque.

Os fiéis desta religião esotérica –cujo inspirador em sua forma atual é o xeque Adi ben Mussafir, nascido em Damasco e morto em 1160 em Lalish, no Curdistão iraquiano– veneram principalmente Malak Taus, que dirige os arcanjos e é freqüentemente representado por um pavão.

Cristãos e muçulmanos identificam Malak Taus como Lúcifer ou Satã, suscitando a crença popular de que os Yazidi são adoradores do Diabo, embora seja proibido pronunciar essa palavra.

A proibição foi recentemente origem de uma polêmica no Parlamento iraquiano, quando o deputado Yazidi Kameran Khairi Said expressou descontentamento em relação aos ministros e deputados que utilizam a expressão "Que Deus nos preserve do diabo". Ele viu nisso um insulto a sua comunidade.

A seita, cujos membros não podem se converter a outras religiões, é dividida em seis classes: os príncipes, os xeques, os senadores, os pregadores, os ascetas e os fiéis, que representam 70% da comunidade. Os casamentos entre castas são proibidos.

Perseguidos durante dois séculos, seu direito de praticar seu culto é reconhecido na nova Constituição iraquiana.

POLÍTICA

A comunidade Yazidi conta com três deputados, dos 275 assentos na Assembléia Nacional iraquiana, eleitos na formação curda, e com dois assentos dos 111 do Parlamento autônomo curdo. Fora do Iraque, seus fiéis estão espalhados na Alemanha, no Reino Unido, na Turquia, na Rússia e na Síria.

A seita tentou se manter à distância dos conflitos confessionais e políticos que assolam grande parte do Iraque, mas nos últimos meses, as relações com as comunidades sunitas vizinhas se deterioraram.

Sua maior festa anual é uma peregrinação de sete dias à tumba da figura central da seita, xeque Adi, no templo de Lalish, a 60 km de Mossul, um dos bastiões da rebelião sunita no norte do Iraque.

A peregrinação é também a oportunidade para os Yazidi do Iraque afirmarem sua identidade, pois se sentem ameaçados pelos extremistas sunitas que querem retirá-los de suas terras e desrespeitados pelo governo regional curdo.

Milhares de Yazidi vivem nas imediações de Mossul, e seus votos são cobiçados pelos curdos com a proximidade de um referendo previsto para este ano, que deve decidir o futuro de regiões como a cidade multiétnica de Kirkuk, situada em uma região rica em petróleo.


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