Folha de S. Paulo


Temer dá passo em falso com ministério sem mulheres, diz imprensa francesa

A imprensa francesa adota um tom cauteloso nesta sexta-feira (13) sobre a transição política no Brasil. São grandes as expectativas em relação ao governo interino de Michel Temer, mas o afastamento contestado da presidente Dilma Rousseff, somado a uma nova equipe com ex-ministros dos governos petistas, passa uma visão conservadora do país.

O jornal econômico "Les Echos" considera a ausência de mulheres no novo ministério "um passo em falso" de Michel Temer. Várias reportagens no rádio e na TV, enviadas por correspondentes que estão no Brasil, destacam que um ministério formado exclusivamente por "homens brancos" e sem representantes da diversidade brasileira é um sinal de guinada à direita.

Os jornais também analisam as nomeações de Temer. "Le Figaro" nota que a composição do ministério com ex-membros dos governos petistas é uma estratégia típica do PMDB para garantir sua permanência no poder, em qualquer circunstância. O jornal conservador destaca que Temer não representa a solução para a maioria da população, como revela o 1% de intenções de voto que o peemedebista colhe nas pesquisas.

Para ganhar o apoio do empresariado, o novo governo se propôs a efetuar cortes orçamentários e a reduzir impostos. "Um programa impopular", diz o Figaro, no momento em que a maioria dos brasileiros pede maior intervenção do Estado. O PT na oposição, unido aos movimentos sociais, poderá bloquear o país, opina a correspondente Lamia Oualalou. Sem falar na pressão interna por liberação de verbas, às vésperas da campanha para as eleições municipais de outubro.

A nomeação de Henrique Meirelles na Fazenda é uma garantia de austeridade nas contas públicas, mas o veículo francês não vê de que maneira a economia vai melhorar, se ela vai estar dependente do investimento privado, em um contexto de fraca legitimidade política.

LIBÉRATION

O jornal de esquerda "Libération" afirma em manchete que o afastamento da presidente Dilma Rousseff simboliza "um novo fracasso das diferentes experiências socialistas na América do Sul". Em seu editorial, o diário considera que Dilma foi expulsa de forma "humilhante" e "injusta" do Palácio do Planalto, porque seus adversários têm um passivo bem mais comprometedor do que o Partido dos Trabalhadores.

"Libération" recorda que foram os governos de esquerda no Brasil e em outros países da região, como no Uruguai, Chile e na Venezuela, que tiraram milhares de pessoas da pobreza. "O erro do PT talvez tenha sido investir insuficientemente nas reformas de infraestrutura, que teriam liberado o país da dependência das exportações de matérias-primas e criado uma base industrial mais sólida, capaz de sustentar as bases de um verdadeiro Estado social", afirma.


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