Folha de S. Paulo


Bancos de currículos dão trabalho a refugiados que buscam uma vida nova

O Brasil sempre foi aberto a estrangeiros em busca de uma vida nova, mas anárquico na integração deles. Alguns, porém, agora tentam organizar essa hospitalidade.

Entidades dedicadas a atender refugiados têm criado alternativas para apoiá-los na fase mais delicada do ingresso em terras estranhas: encontrar trabalho.

Currículos de refugiados podem ser facilmente consultados numa base de dados do Parr (Programa de Apoio para a Recolocação dos Refugiados). Essa ONG montou um banco com mais de 2.000 currículos. Para acessá-los, empresas devem se cadastrar no site Refugiados do Brasil.

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O Parr também ajuda companhias na seleção, indicando profissionais com formação e perfil adequado para cada vaga e companhia.

Na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo, achar um currículo é ainda mais fácil. Uma máquina parecida com um caixa eletrônico tem em sua tela imagens de refugiados se alternando rapidamente. O usuário do aparelho coloca um fone de ouvido e, ao apertar um botão, a imagem para em um deles, que conta sua história em um vídeo. Ao final, o currículo da pessoa é impresso.

Ela foi instalada neste mês pela ONG Estou Refugiado, que também mantém banco de currículos.

Segundo dados do Conare (Comitê Nacional para Refugiados, do Ministério da Justiça), 31.505 pessoas solicitaram refúgio no Brasil entre janeiro e novembro deste ano.

Em todo o ano de 2016, o país recebeu cerca de 10.300 solicitações. O aumento foi causado pela vinda de quase 16,8 mil venezuelanos.

Integração

Quem vem para cá, em geral, não tem a intenção de voltar para seu país de origem.

É um refúgio de integração, diferente do que acontece em países na fronteira de conflitos, em que se espera a crise passar para retornar para casa, diz Luiz Fernando Godinho, oficial de informação Pública do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados).

Muitos deixam para trás filhos, pais e cônjuges na esperança de trazê-los para perto quando a situação melhorar.

Na chegada, a lista de desafios inclui conseguir informações em um país com idioma desconhecido, dormir em abrigos temporários e conseguir trabalho.

É comum que profissionais qualificados como engenheiros não exerçam suas profissões inicialmente. A prioridade é garantir a sobrevivência.

O médico radiologista Pierre Okok, 39, congolês, está há dois anos no Brasil. Trabalha como gari em São Paulo há um ano e quatro meses ao lado de sua mulher.

"Mando dinheiro para meus quatro filhos todos os meses. Quero trazê-los para cá. Com o salário que ganhamos, enviamos alguma coisa para eles, mas, como precisa ser tudo em dólares, é difícil."

Formado em química, o venezuelano Simon Granadillo, 33, trabalhava no controle de qualidade de uma empresa do setor de óleo e gás em seu país, onde o colapso econômico tornou difícil obter o básico, como alimentos e remédios. Aqui, ele está no segundo emprego como garçom. Conseguiu trazer a mãe e a irmã para o Brasil. O próximo objetivo é buscar a avó.

"Quero trazer minha família para o Brasil. Se houver oportunidade, voltarei a trabalhar na minha área."

REFÚGIO NO BRASILPaís recebeu mais de 31.500 solicitações em 2017

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