Folha de S. Paulo


Triunvirato do Google chega ao seu final

A saída de Eric Schmidt, 62, da presidência do conselho da Alphabet, a controladora do Google, põe fim a um incomum triunvirato que durou 17 anos e comandou a ascensão da maior companhia mundial de internet.

Ele vai deixar seu posto na próxima reunião do conselho, em janeiro, mas continuará como consultor técnico da empresa e manterá um assento no conselho.

O engenheiro já havia deixado a presidência-executiva do Google sete anos atrás, substituído por Larry Page, um dos cofundadores da companhia. Mas continuou a ser a face pública da companhia de buscas e da Alphabet em todo o mundo.

Sua estreita identificação com a campanha presidencial frustrada de Hillary Clinton atraiu atenção indesejada, e o Google e outras grandes empresas de tecnologia estão enfrentando pressão política e regulatória em Washington este ano.

Nos meses que antecederam a eleição, quando a expectativa era de que Hillary vencesse, o apoio de Schmidt a ela era encarado como jogada astuta, perpetuando o relacionamento que ele havia criado com a Casa Branca do presidente Barack Obama.

Mas a arriscada aposta política que ele fez fracassou, com a eleição do republicano Donald Trump.

A despeito desses tropeços e de informações quanto a desentendimentos crescentes entre os líderes da empresa, algumas pessoas que trabalharam em estreita proximidade com Schmidt e Page descartaram as insinuações de que a posição de Schmidt poderia estar em questão.

Um porta-voz do Google disse que a saída estava em discussão há mais de um ano e que a posição de presidente do conselho em período integral havia se tornado desnecessária depois da criação da holding Alphabet em 2015.

Isso elevou Sundai Pinchar, o principal engenheiro do Google, ao posto de presidente-executivo da companhia de buscas, afastando Schmidt um pouco mais do negócio que continua a responder por 99% do faturamento da Alphabet (US$ 90 bilhões no ano passado).

Segundo a "Forbes", Schmidt tem uma fortuna de US$ 13,8 bilhões –é a 107ª pessoa mais rica do mundo. Trata-se de um caso raro na lista de alguém que não é herdeiro nem empreendedor.

SUPERVISOR

Engenheiro respeitado e com muita experiência no ramo altamente técnico do software para empresas, Schmidt não era muito conhecido fora do Vale do Silício quando foi selecionado para comandar o serviço criado por Page e Sergey Brin, dois alunos de pós-graduação da Universidade Stanford, em 2001.

Na época, Schmidt se referiu ao seu papel, jocosamente, como o de "supervisão adulta", em que oferecia experiência de gestão à companhia. Mas a brincadeira mascarava tensões, já que os investidores externos do Google haviam pressionado os jovens cofundadores a confiar a gestão da empresa a um executivo mais experiente.

O relacionamento entre os três –com Schmidt sempre subordinado aos fundadores– sustentou uma década de rápido crescimento, até que Page assumisse como presidente-executivo.

STEVE JOBS

Schmidt teve também uma ligação com a Apple e seu fundador, Steve Jobs.

Ele tornou-se membro do conselho da Apple em 2006. À época, as duas empresas não eram competidoras.

O executivo do Google era, portanto, conselheiro da Apple enquanto esta estava desenvolvendo o iPhone, cuja primeira versão foi lançada em janeiro de 2007.

O Google começou a desenvolver o Android em 2007, mas o primeiro telefone com o sistema operacional foi lançado em 2008. As primeiras versões do Android não tinham funções nas quais o iPhone tinha sido pioneiro, como o "multitouch".

Jobs tentou dissuadir o Google de continuar com o projeto do Android, conta o biógrafo Walter Isaacson em "Steve Jobs", biografia do fundador da Apple.

Schmidt saiu do conselho da Apple em 2009; em 2010, quando um telefone Android com funções muito parecidas com as do iPhone foi lançado, Jobs ficou furioso, se sentindo traído por Schmidt e ameaçando "guerra termonuclear". A Apple processou várias das fabricantes de smartphones Android, como a HTC e a Samsung.

Apesar do episódio, tudo indica que os dois mantiveram uma amizade, ou ao menos um relacionamento cordial.


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