Folha de S. Paulo


Vocação internacional contribuiu para longevidade da Embraer

Apesar de ter nascido no contexto da doutrina de soberania e segurança nacional da ditadura militar, a Embraer vai bem até hoje graças à sua vocação internacional, que permitiu que ela sobrevivesse à abertura comercial dos anos 1990, diferentemente de outras estatais.

A empresa surgiu em 1969 como um projeto de engenheiros egressos do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e do CTA (Centro Tecnológico de Aeronáutica), em São José dos Campos (SP). Os institutos de pesquisa eram ligados aos militares, que apoiaram a iniciativa.

O país já havia abrigado projetos de aviação antes, como a Companhia Aeronáutica Paulista (CAP) de Francisco Pignatari, em 1942, a Fábrica Nacional de Motores (FNM), em 1943, e a Sociedade Construtora Aeronáutica Neiva, em 1954. Todas, porém, esbarraram na falta de qualificação e de capital.

A Embraer, então uma sociedade de economia mista vinculada ao Ministério da Aeronáutica, construiu aviões para as Forças Armadas e para a aviação regional, aposta que se provou acertada. Nesta última, havia uma demanda reprimida, especialmente nos Estados Unidos.

No fim dos anos 1970, a estatal já abocanhava um terço do mercado norte-americano na categoria de até vinte assentos com aviões Bandeirante, produzidos com condições de crédito diferenciadas que permitiam rapidez maior.

Alguns sucessos comerciais foram o Tucano (1980), de uso militar, o Brasília (1983), comercial, e o Xingu (1976), de defesa e comercial. O primeiro avião da empresa, o Ipanema (1970), para uso agrícola, é vendido até hoje.

Após esse período de rentabilidade, a crise no fim dos anos 1980 atingiu em cheio a empresa. Os gastos militares estavam em baixa no mundo e a oferta de crédito se contraiu, afetando as vendas.

Para agravar a situação da companhia, os investimentos do governo na Embraer foram cortados na virada da década, quase paralisando as operações no governo Collor.

A empresa registrava anos sucessivos de prejuízo, de 1990 a 1993, quando veio a decisão de privatizá-la.

Em dezembro de 1994, foi vendida por R$ 154 milhões (hoje, R$ 942 milhões), pagos em títulos da dívida de estatais ("moedas podres"), com a condição de que os fundos de pensão, que venceram o leilão, investissem R$ 30 milhões (hoje, R$ 183 milhões) de imediato na empresa.

O governo continuou com a "golden share" (ação que dá poder de veto) na empresa, mas com participação reduzida para menos de 20%.

Um dos atrativos para os investidores era a linha ERJ 145, de jatos de até 50 assentos. Concorriam com os aviões da Bombardier, empresa canadense que entrou no mercado de aviação regional no início dos anos 1990 e que hoje é a mais forte rival da fabricante brasileira.

Após a injeção de capital, a Embraer voltou a ganhar mercado, alavancou as vendas e lançou ações nas Bolsas de São Paulo e Nova York em 2000. Nos anos seguintes, veio a aposta nos jatinhos Legacy (2001) e Phenom (2007), consolidando o tripé de aviação comercial, executiva e militar que sustenta a empresa.

A empresa foi abalada pela crise dos últimos dois anos no país, mas reverteu o prejuízo no terceiro trimestre de 2017.

GIGANTE BRASILEIRANascida durante a ditadura militar, Embraer cresceu com aposta em mercado de aviação regional

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