Folha de S. Paulo


Região Nordeste puxa o avanço em internet de alta velocidade

A região Nordeste é a que mais avançou em infraestrutura para acesso à internet de alta velocidade. Alagoas, Sergipe, Bahia, Pernambuco e Tocantins -este na região Norte- são os cinco Estados que se destacam com maior número de municípios entre as 300 cidades que ganharam rede de fibra óptica neste ano de 2017.

Na contramão, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba, Amazonas e Minas Gerais são os que enfrentam a maior falta de estrutura, de acordo com dados da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), que permitem mostrar o mapa da realidade digital no país.

Divulgação
Sibylle Muller, da AcquaBrasilis, em empreendimento com sistema de reúso, em São Paulo
Cabo de fibra óptica lançado no rio Negro (AM) pelo Exército

Estudo recente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em parceria com a agência indica que a demanda reprimida por acesso à internet no país é de 11,6 milhões de domicílios, apesar dos avanços.

Hoje, 39,1 milhões de residências têm acesso à banda larga fixa, ou 3G e 4G na telefonia móvel. Se o acesso a esses serviços for universalizado, serão incluídos mais 6 milhões de lares.

No Brasil, 3.452 cidades já dispõem de fibra óptica, 2.086 acessam internet via rádio e 32 municípios são atendidos por satélite, segundo informações prestadas pelas operadoras de serviços de telecomunicações.
Mas, na maior parte das cidades, a infraestrutura permite apenas velocidades baixas, de 2 Mbps a 10 Mbps.

AMPLIAÇÃO

Enquanto o acesso à internet de qualidade (por fibra) não chega a 100% dos municípios brasileiros –meta que o governo pretende garantir com a nova política de banda larga em até dez anos–, provedores regionais, operadoras e ONGs buscam ampliar o acesso usando para isso diferentes tipos de tecnologia.

"São os provedores regionais que têm atuado nas áreas de sombra do país para oferecer serviço em regiões em que as grandes não trabalham. Isso acontece no Centro-Oeste, no Norte, no Nordeste ou no extremo sul da cidade de São Paulo", diz Eduardo Parajo, presidente da Abranet (Associação Brasileira de Internet).

Editoria de Arte/Folhapress

Pelos dados da Anatel, 3.300 empresas informaram seus números de assinantes na prestação de serviço de internet em outubro. No total, são 9.600 cadastradas na agência para fazer o serviço.

Os provedores regionais geralmente chegam a cidades com poucos habitantes, instalam em um primeiro momento a internet a rádio e, depois, fazem a migração para a fibra óptica.

O segmento, formado por 80% de empresas de menor porte, cresce de 10% a 15% ao ano e movimenta R$ 5 bilhões na economia, segundo a Abrint (Associação Brasileira dos Provedores de Internet e Telecomunicações).
"Parte dos provedores atende regiões mais remotas com rádio, mas notamos grande migração para fibra", afirma Basílio Perez, presidente da Abrint.

"São empreendedores que investem recursos próprios para poder crescer. O que limita a expansão é a falta de financiamento. Todo mundo aceita um caminhão como garantia para conceder um empréstimo. Mas não se aceitam equipamentos de internet ou a própria rede."

A Brisanet, que começou em 1996 atuando com internet discada, e hoje atende 160 mil consumidores no interior do Ceará, do Rio Grande do Norte e da Paraíba, é uma das empresas que mais cresce no Nordeste.

Entre os usuários, 20 mil estão localizados na zona rural com internet a rádio, os demais possuem fibra óptica.

'EXCLUÍDO DE TUDO'

"Nasci e cresci no semiárido, em uma cidade com 5.000 habitantes. Vivi sem televisão e excluído de tudo. Decidi investir para mudar essa realidade. Hoje, levamos fibra óptica e internet de qualidade para o interior do sertão", afirma José Roberto Nogueira, 52, que é fundador da Brisanet.

Em 2010, a empresa construiu e instalou 800 pequenas torres em uma área do tamanho de São Paulo, atendendo 80% da zona rural com internet a rádio. Hoje, serve 150 cidades, a maior parte delas com fibra. "Muitas não têm shopping, nem cinema. A internet é o lazer, e ter acesso de qualidade significa inclusão digital e social", diz o empreendedor.

No Centro-Oeste, é a internet a rádio que movimenta o campo e agiliza o trabalho de produtores rurais.

"As colheitadeiras e as máquinas pulverizadoras estão conectadas a um tablet e, por meio dos dados enviados pela internet, fazemos todo o controle da produção. Aqui a internet é necessária, por isso investimos cerca de R$ 5.000 para ter uma antena e receber o sinal de rádio", explica Valquíria Alonso Pereira, 50, agrônoma e sócia da Sementes Vitória, empresa que produz sementes de soja em uma área de 3.250 hectares no município de Rio Verde (GO). "Não é 100% eficiente, mas é melhor do que não ter nada."

De cabo a rabo - Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba, Amazonas e Minas Gerais são os Estados com maior % de municípios sem internet com fibra óptica

INVESTIMENTOS

Após retração em telecomunicação nos dois últimos anos, os recursos públicos e privados devem avançar 25% em 2018 e chegar a R$ 23,3 bilhões. A previsão é da consultoria Inter.B, especializada em infraestrutura.

Neste ano, a Vivo investiu R$ 8 bilhões. "A banda larga é peça fundamental para o desenvolvimento econômico e social do país. O Estado brasileiro tem hoje grandes oportunidades para fazer política pública e garantir no curto prazo uma conexão de internet rápida para a população sem onerar o orçamento", informa a Vivo, que deve investir R$ 24 bilhões até 2019.

A Tim prevê investimentos de R$ 12 bilhões para o período de 2017 a 2019, principalmente em infraestrutura de rede. "Pretendemos expandir a ultra banda larga fixa", diz Marco Di Constanzo, diretor de engenharia da Tim Brasil.

A Oi investiu R$ 3,8 bilhões de janeiro a setembro, um avanço de 11,6% em relação ao mesmo período de 2016, sendo que 85% desse montante foi destinados à expansão da rede e melhorias de TI, informa a operadora.
No setor público, o governo investe no projeto Internet para Todos e no Amazônia Conectada, para ampliar o acesso à banda larga.

A partir de janeiro de 2018, o Internet para Todos deve beneficiar 40 mil unidades públicas em 500 cidades. A conexão será feita por SGDC (Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas), adquirido pela Telebras, com investimentos da ordem de R$ 2,7 bilhões.

O secretário de Telecomunicações, André Borges, diz que o governo prepara medidas para incentivar maior atuação das empresas em áreas rurais. "Estão em estudos faixas para aumentar a conectividade em áreas de baixa densidade demográfica. A política pública parou na telefonia fixa e nos orelhões, estamos revendo isso." Outra medida é transformar os pontos em que estão os orelhões e, com uso de sinal de satélite, distribuir wi-fi para essas localidades, como prevê o Plano Geral de Metas de Universalização.

INVESTIMENTOS NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES - Em bilhões de R$

O QUE DIZEM OS USUÁRIOS - Em milhões de domicílios

Total de domicílios - Em milhões de domicílios com acesso à internet, por tipo de conexão, em 2016


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