Folha de S. Paulo


Facebook despenca como fonte de acesso a sites de jornalismo

Damien Meyer/AFP
This photograph taken on September 28, 2017, shows a smartphone being operated in front of GAFA logos (acronym for Google, Apple, Facebook and Amazon web giants) as background in Hédé-Bazouges, western France. / AFP PHOTO / Damien MEYER
Google lidera acesos externos

O Facebook vem caindo aceleradamente como fonte dos acessos a sites de jornalismo e no momento responde por pouco mais da metade do volume que é enviado pelo serviço de buscas do Google.

Segundo a Parse.ly, empresa de pesquisa e análise de audiência digital, o levantamento mais recente, de terça-feira (12), mostrou que 24% dos chamados acessos externos vinham do Facebook, ante 45% do Google Search.

No início do ano (veja quadro acima), o Facebook estava na frente, com 39%, ante 34% do Google. Por dois anos, entre 2015 e 2017, a rede social foi mais importante para o tráfego dos veículos do que o serviço de busca.

De forma geral, diz a Parse.ly, os acessos internos (via home page ou outras páginas dos próprios sites) ou diretos (via e-mail, favoritos e outros) respondem por dois terços do total. Somados, Google e Facebook ficam com um terço.

O levantamento acompanha em tempo real mais de 2.500 veículos, como o americano "Wall Street Journal" e o britânico "Telegraph", os grupos de jornais Hearst e GateHouse, os grupos de revistas Time Inc. e Condé Nast, sites como "HuffPost" e a empresa de mídia e dados Bloomberg.

TRANSPARÊNCIA

Procurado, o Facebook não quis comentar, mas a explicação dada como mais provável, por analistas de mídia e tecnologia, são mudanças que a plataforma vem realizando desde junho de 2016.

Adam Mosseri, vice-presidente do Feed de Notícias da rede, anunciou então a primeira de várias alterações no algoritmo visando levar os usuários a "ver mais posts de amigos e parentes", em vez das páginas jornalísticas, com links para os sites originais.

Algoritmo, em linhas gerais, é o conjunto de regras e operações usadas para chegar a um resultado.

"Tudo indica que as mudanças de algoritmo estão por trás dessa queda", diz Rosental Calmon Alves, diretor do Centro Knight, da Universidade do Texas. "Não podemos ter certeza porque não sabemos o que o Facebook fez, quando o fez e qual o resultado prático."

Em entrevista na sexta (15) ao site "Digiday", o presidente-executivo do "New York Times", Mark Thompson, foi pela mesma linha: "O Facebook não é transparente. Não entendemos como seu algoritmo funciona, e ele não é obrigado a esclarecer".

Por outro lado, segundo Clare Carr, analista da própria Parse.ly, o Google vem crescendo como fonte de acesso aos sites jornalísticos devido ao êxito da ferramenta AMP (Accelerated Mobile Pages).

Os veículos publicam seu conteúdo em páginas AMP e, como elas são destacadas no alto das buscas, conseguem mais cliques.

EXPERIMENTO

O levantamento da Parse.ly confirmou um quadro que, isoladamente, os veículos já vinham observando. Aos poucos, as páginas jornalísticas e outras, não pessoais, escassearam no Feed de Notícias, a porta de entrada dos usuários na rede, se concentrando noutras partes do perfil.

A possibilidade de o Facebook estar preparando a separação completa das páginas, a exemplo do que vem testando em pequenos países desde outubro, é negada pela plataforma.

"O teste não foi expandido para além dos seis países que já anunciamos", respondeu o Facebook, acrescentando, especificamente, que "não está acontecendo no Brasil."

O "experimento", que derruba a audiência dos veículos, vem causando revolta. Nesta semana, editores do Camboja e da Sérvia escreveram artigos contra o teste, respectivamente, no "Washington Post" e no "New York Times".

MEDIDAS EMERGENCIAIS

A Bolívia é outro país afetado. Procurado, o diretor digital do "La Razón", de La Paz, confirmou uma forte queda nos acessos oriundos do Facebook, devido à exclusão total de seu perfil do Feed de Notícias, e relatou medidas emergenciais.

"Por exemplo, compartilhar os conteúdos por meio das contas pessoais dos jornalistas", diz Baldwin Montero. "Estamos também apostando em estimular o ingresso direto na nossa home page, com algumas estratégias financiadas."

Ele afirma que não descartou o Facebook como "ferramenta de apoio à difusão dos conteúdos", mas que não é a base de sua estratégia.

"Não podemos depender deles, justamente por decisões como essa, em que eles mudam as regras."

GOOGLE VOLTA A LIDERARPercentual de acessos externos a sites de notícias, por plataforma

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