Folha de S. Paulo


Plataformas para organizar eventos de pequeno porte crescem na rede

Patricia Stavis/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 17-11-2017: Marcelo Moreira, 53 anosé sócio da Evnt, empresa de eventos corporativos que oferece diversos fornecedores em um grande market place na internet. A pauta trata de novas estratégias de negócio dos pequenos para se diferenciar num mercado mais fechado, controlado por alguns poucos grandes grupos. (Foto: Patricia Stavis/Folhapress, Sup. Especiais ) Co?digo do Fotógrafo: 1538
Marcelo Moreira, 53, sócio da Evnt, plataforma para organizar eventos, no escritório da empresa, em SP

Há algo de novo no universo dos workshops, palestras e lançamentos de produtos. Duas start-ups paulistanas desenvolveram plataformas para organizar eventos corporativos sem que o cliente precise sair do escritório.

Fundada em 2016 pelo publicitário Marcelo Moreira, com investimento inicial de R$ 1,5 milhão, a Evnt realizou cerca de cem eventos no primeiro ano de operação.

Funciona assim: o usuário, que deve ser pessoa jurídica, se cadastra no site e escolhe o local onde quer realizar o evento –são 150 hotéis registrados, em oito Estados. Depois, define a infraestrutura necessária, desde telões até comida. Ao final, paga pela própria plataforma, usando boleto ou cartão de crédito.

"Como exploramos o conceito do 'faça você mesmo', nos concentramos nos eventos de baixa complexidade, como treinamentos e workshops", afirma Moreira.

Neste ano, a Evnt recebeu aporte de R$ 1 milhão, que vai viabilizar a fase dois da plataforma. Metade veio de um investidor-anjo, e o restante, de recursos próprios.

"Vamos passar a oferecer hospedagem", diz Moreira. A empresa, que já tem 11 funcionários, espera faturar R$ 4 milhões em 2018.

Para o publicitário, a organização de pequenos eventos corporativos representa um nicho enorme que ainda carece de exploração.

"Uma grande indústria farmacêutica, por exemplo, chega a programar 3.500 eventos de pequeno porte por ano."

MUDANÇA DE RUMO

Em novembro de 2016, quando lançou a Celebrar, a empresária Camila Florentino, 28, planejava se concentrar na organização de festas de formatura.

Formada em lazer e turismo, ela queria eliminar os intermediários da cadeia para oferecer orçamentos até 50% mais baratos.

"Via que 94% dos fornecedores contratados eram micro e pequenas empresas. Eles recebiam valores bem abaixo do que o dono da festa efetivamente pagava. A maior parte ficava com os intermediários", afirma.

Aos poucos, porém, a vocação da Celebrar foi mudando. Florentino e as sócias, Patrícia Cella e Monna Santos, entenderam que havia maior potencial de crescimento nos eventos corporativos. E para um tipo de público muito específico: empresas da área de tecnologia.

As demandas do setor não chegam a ser muito diferentes: clientes desse perfil também precisam de estrutura de audiovisual, coffee break, brindes. A diferença está nos prazos. "É um nicho mais dinâmico, quase frenético.
Já organizamos um evento em apenas sete horas", conta a empreendedora.

Ao mudar o foco, a Celebrar acertou em cheio. Desde maio, já foram realizados 150 eventos. A cartela de clientes inclui empresas como Google, a rede de coworking WeWork e as aceleradoras Startup Farm, Liga Ventures, Darwin Starter e B2Mamy.

"Faturamos R$ 100 mil em outubro de 2017, contratamos uma pessoa e já estamos pensando em aumentar a equipe", diz Florentino.

Para continuar crescendo, porém, a empresária prevê investimento pesado em tecnologia –por enquanto, os negócios são iniciados pelo site, mas o processo de personalização e o pagamento são fechados por e-mail.

"Ainda não saímos em busca de investidores, mas estamos abertas a isso. Sabemos que, sem um aporte de peso, não temos como atingir o nível que pretendemos."

'FAÇA VOCÊ MESMO' QUER CHEGAR A CASAMENTOS

Danilo Verpa/Folhapress
Giovanna Capelari, Monna Santos, Patricia Forte e Camila Florentino do Celebrar, em SP
Giovanna Capelari, Monna Santos, Patricia Forte e Camila Florentino do Celebrar, em SP

O setor de organização de festas e eventos deve se preparar para mudanças profundas nos próximos anos. Essa é a opinião de Marcelo Flores, coordenador dos cursos de gestão de eventos da ESPM.

"Alguns segmentos já funcionam muito bem na base do 'faça você mesmo'. É fácil, por exemplo, criar e imprimir convites e folhetos de forma remota. As pessoas se viram com a menor equipe possível", afirma.

Para o professor, marketplaces de fornecedores têm potencial para extrapolar os eventos corporativos e conquistar outros públicos.

"Esse modelo é viável até mesmo para os casamentos. A noiva que não tem verba para contratar uma empresa formal de organização pode assumir tudo sozinha, por que não? Vai faltar apenas alguém para gerenciar tudo no dia, mas acho que as plataformas podem evoluir nesse sentido", diz Flores.

A predominância de empresas de pequeno porte no setor também é um fator que favorece a inovação, afirma Ana Claudia Bitencourt, presidente da Abeoc Brasil (Associação Brasileira de Empresas de Eventos).

Segundo ela, "em nenhum segmento dessa área há uma grande empresa dominante.Existe espaço para inovação e criatividade, especialmente em nichos específicos."

Em parceria com o Sebrae, a Abeoc Brasil vai lançar um programa de qualificação para empresas de eventos em 2018. O objetivo é capacitar os empreendedores no conjunto de normas técnicas criadas pela Abepc, em parceria com a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e o Sebrae.

"Começar a atuar com qualidade, dominando as normas técnicas, é uma grande vantagem competitiva", diz Bitencourt.


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