A aquisição pela Disney do conglomerado 21st Century Fox, controlado por Rupert Murdoch, um negócio avaliado em US$ 66,1 bilhões, representa o maior contra-ataque por uma empresa de mídia tradicional aos gigantes da tecnologia.
A aquisição, que seria considerada impensável alguns anos atrás, vai mudar o panorama de Hollywood e do Vale do Silício, caso seja autorizada pelas autoridades regulatórias americanas.
A Disney agora tem poderio suficiente para se tornar competidora real da Netflix, da Apple, da Amazon, do Google e do Facebook no reino do vídeo on-line, que vem crescendo aceleradamente.
Ao mesmo tempo, o acordo significa que um dos estúdios mais célebres, o 20th Century Fox, passará por um "downsizing", com algumas operações combinadas às dos estúdios Disney e outras redirecionadas à produção de filmes para distribuição on-line.
Fundado em 1935, o estúdio Fox transformou Marilyn Monroe em estrela, produziu clássicos como "A Noviça Rebelde", lançou o primeiro dos filmes da saga Star Wars e transformou "Avatar" no filme de maior sucesso de bilheteria de todos os tempos.
Mas recentemente, como a maior parte de de Hollywood, ele vinha encontrando dificuldades para acompanhar as mudanças na forma pela qual as audiências mais jovens consomem conteúdo – ou seja, por meio de dispositivos conectados à internet.
A Disney, que controla a rede de TV aberta norte-americana ABC e a rede de esportes ESPN, espera que a aquisição da 21st Century Fox acelere seus planos de introduzir dois serviços de streaming semelhantes à Netflix.
O primeiro dos grandes projetos de streaming da companhia, o ESPN Plus, entrará em operação no segundo trimestre de 2018.
Um segundo projeto, cujo nome ainda não foi decidido, chegará ao mercado no final do ano que vem.
O terceiro componente da carteira de streaming da empresa será o Hulu, um serviço já estabelecido que tem por foco telespectadores mais velhos, com uma programação que inclui séries da ABC.
A empresa está adquirindo a participação minoritária da 21st Century Fox no Hulu, o que dará controle majoritário do serviço de streaming à Disney, que antes detinha 30% de participação. Comcast e Time Warner também têm participações no Hulu.
A Disney está adquirindo o estúdio de televisão da Fox, que tem 36 séries em produção, entre elas "Os Simpson", "Homeland", "This is Us" e "Modern Family".
O ABC Studios, da Disney, é um produtor de TV muito menor e vem produzindo séries de qualidade irregular. Em agosto, a companhia perdeu a criadora de seus maiores sucessos, quando Shonda Rhimes, produtora da série "Grey's Anatomy", se transferiu para a Netflix.
Para reforçar a ESPN Plus, a Disney vai adicionar 22 redes regionais de TV a cabo dedicadas a esportes controladas pela 21st Century Fox, entre as quais a YES Network, que transmite os jogos do New York Yankees, popular time de beisebol dos EUA.
A maior parte do lucro da Disney ainda vem dos EUA, onde os canais de esporte ESPN dominam e os parques de diversões receberam 162 milhões de pessoas ao ano.
O canal de notícias Fox News, a rede Fox de TV aberta e o canal de esportes FS1 não foram incluídos na transação, e Murdoch disse que criaria uma nova empresa de capital aberto para controlar essas operações e algumas outras redes de TV a cabo.