Folha de S. Paulo


Bolsa cai 1,2% após governo adiar reforma para fevereiro; dólar recua

Pedro Ladeira - 16.mar.2017/Folhapress
Líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), anunciou que reforma ficou para fevereiro
Líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), anunciou que reforma ficou para fevereiro

A notícia de que o governo adiou para fevereiro a votação da reforma da Previdência repercutiu mal no mercado financeiro e levou a Bolsa brasileira a recuar mais de 1%, diante do esperado grau de dificuldade maior de aprovar as mudanças em ano eleitoral. O dólar fechou em leve baixa, antes do terceiro aumento de juros nos Estados Unidos.

O índice Ibovespa, das ações mais negociadas, teve queda de 1,22%, para 72.914 pontos. O volume financeiro foi de R$ 12,4 bilhões, em dia de vencimento de índice, que aumenta o giro negociado.

O dólar comercial fechou em baixa de 0,36%, para R$ 3,317. O dólar à vista teve queda de 0,49%, para R$ 3,314.

O adiamento da reforma piorou o humor do mercado. A Bolsa, que caía 0,63% por volta de 17h, quando o anúncio ocorreu, intensificou a baixa.

A informação foi divulgada em nota da assessoria de imprensa do senador Romero Jucá (PMDB-RR) e confirmada pessoalmente por ele em seguida, durante entrevista coletiva. Segundo Jucá, a decisão foi tomada por causa do baixo quórum que deve haver no Congresso na próxima semana, por causa da antecipação da votação do Orçamento de 2018.

"O mercado estava em compasso de espera. Agora, virou 'apertem os cintos'. Vai haver um ajuste mais forte nos próximos dias, mas depois a Bolsa vai ficar de lado até fevereiro, devolvendo um pouco do ganho que o Ibovespa teve no ano", diz Pedro Galdi, analista-chefe da Magliano Corretora.

Para Mauricio Nakahodo, economista do Mitsubishi UFJ Financial Group no Brasil, o governo tomou a decisão em meio a um cenário desafiador para colocar em votação a reforma na próxima semana, como inicialmente previsto.

"Quando a gente acompanha e conversa com congressistas, não tem os votos necessários. É um processo longo que o governo está tentando agilizar no primeiro trimestre. Agora tem que acompanhar para saber se vai reunir o mínimo de votos", diz.

Apesar do impacto em Bolsa, outros ativos que espelham o risco, como o CDS (espécie de seguro contra calote) e os juros futuros, fecharam em baixa nesta sessão. O CDS recuou 0,57%, para 165,1 pontos.

No mercado de juros futuros, o contratos mais negociados fecharam com sinais mistos. O contrato para janeiro de 2018 teve leve alta de 6,894% para 6,895%. O contrato para janeiro de 2019 caiu de 6,980% para 6,950%.

AÇÕES

Das 59 ações do Ibovespa, 45 caíram e 14 subiram.

A maior queda ficou com os papéis da Ecorodovias, com perda de 3,22%. A Qualicorp teve baixa de 3,18%, e a Cemig se desvalorizou 3,11%. Os papéis preferenciais da Eletrobras caíram 2,68%, e os ordinários recuaram 2,47%.

Na ponta positiva, a Cosan subiu 5,19%. A Tim teve alta de 2,82%, e a Kroton avançou 1,57%.

Os papéis da Petrobras fecharam em baixa, em dia de desvalorização do petróleo. As ações preferenciais da estatal caíram 2%, para R$ 15,18. As ações ordinárias tiveram baixa de 1,54%, para R$ 15,94.

As ações ordinárias da mineradora Vale caíram 0,19%, para R$ 36,11.

No setor bancário, o Itaú Unibanco teve baixa de 2,22%. As ações preferenciais do Bradesco caíram 1,70%, e as ordinárias perderam 1,51%. O Banco do Brasil teve desvalorização de 2,40%, e as units –conjunto de ações– do Santander Brasil baixaram 1,53%.

DÓLAR

No mercado cambial, a notícia mais aguardada –e já embutida nos preços– era a decisão do banco central americano de aumentar, pela terceira vez no ano, os juros da economia dos Estados Unidos. A alta, de 0,25 ponto percentual, levou a taxa para a faixa entre 1,25% e 1,5%.

No mundo, o dólar perdeu força ante 26 das 31 principais moedas.

Os investidores ficaram atentos às sinalizações em torno de futuros aumentos de juros nos Estados Unidos. As projeções do Fed se mantiveram inalteradas, mesmo com a perspectiva de uma aceleração do crescimento econômico americano no curto prazo –são três altas estimadas em 2018 e outras três em 2019.

"Há uma preocupação de como a reforma tributária poderia impactar os EUA e o ritmo de aumento de juros, porque poderia estimular mais a economia americana", afirma Nakahodo, do Mitsubishi UFJ Financial Group no Brasil.

Nesta sessão, o Banco Central vendeu os 14 mil contratos de swaps cambiais tradicionais (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro), para rolagem dos que vencem em janeiro. Até agora, rolou o equivalente a US$ 6,3 bilhões dos US$ 9,638 bilhões que vencem no mês que vem.


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