Folha de S. Paulo


Após pressão, Facebook deixará de contabilizar na Irlanda parte da receita

Drew Angerer - 14.jul.17/Getty Images/AFP
SUN VALLEY, ID - JULY 14: Mark Zuckerberg, chief executive officer and founder of Facebook Inc., attends the fourth day of the annual Allen & Company Sun Valley Conference, July 14, 2017 in Sun Valley, Idaho. Every July, some of the world's most wealthy and powerful businesspeople from the media, finance, technology and political spheres converge at the Sun Valley Resort for the exclusive weeklong conference. Drew Angerer/Getty Images/AFP == FOR NEWSPAPERS, INTERNET, TELCOS & TELEVISION USE ONLY ==
O presidente-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg

O Facebook se tornou uma das primeiras grandes empresas de tecnologia a reformular sua estrutura tributária e a reduzir a porção de sua receita que é contabilizada na Irlanda, diante da pressão que as multinacionais começam a sofrer para pagar impostos nos países em que operam.

A maior rede social do planeta anunciou que a partir do ano que vem adotará uma estrutura local de vendas.

Os anúncios vendidos serão contabilizados como receita nos 25 países em que ela está estabelecida em todo o mundo, e não em sua sede internacional, na Irlanda.

A decisão pode significar que a companhia venha a ter de pagar impostos mais altos caso contabilize receitas em países como França, Alemanha e Itália. Mas, a depender da maneira pela qual ela contabilize suas despesas em cada jurisdição, pode ser que sua carga tributária total não cresça muito.

A receita com anúncios vendidos por sua plataforma automatizada de venda, por intermédio da qual milhões de pequenos anunciantes adquirem anúncios, continuará a ser contabilizada na Irlanda.

Dave Wehner, vice-presidente financeiro do Facebook, disse que a decisão consumirá "recursos significativos" e que só será concluída no final do primeiro semestre de 2019.

"Acreditamos que adotar uma estrutura local de venda oferecerá mais transparência aos governos e autoridades de todo o mundo que apelaram por mais visibilidade quanto à receita associada a vendas locais em seus países", ele disse.

O Facebook e outras empresas de tecnologia foram acusados por governos europeus e pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que congrega países em sua maioria ricos, de evitar impostos por meio de planejamento tributário complexo.

A Itália propôs um plano para um imposto sobre vendas digitais, no mês passado, que forçaria anunciantes que compram publicidade no Google e Facebook a reter na fonte 6% dos valores pagos, a serem recolhidos pelo Tesouro italiano.

Bruno Le Maire, ministro das Finanças da França, apelou neste ano para que a Europa se afirmasse e "fizesse com que Google, Amazon e Facebook paguem o que devem aos contribuintes europeus".

Empresas que usam o "duplo irlandês", uma controvertida lacuna tributária empregada para reduzir os impostos devidos, estão em busca de alternativas, porque a lei que criou essa brecha expirará em 2020.

O Facebook já adotou estruturas locais de venda de publicidade no Reino Unido e na Austrália.

Em 2016, a companhia anunciou que contabilizaria no Reino Unido as grandes vendas de publicidade realizadas por sua equipe no país, em lugar de registrar a receita na Irlanda, onde a alíquota de impostos que incide sobre seu faturamento é mais vantajosa.

O valor total dos impostos pagos pela companhia no Reino Unido aumentou em £ 900 mil, para £ 5,1 milhões, no ano passado, o que representa alta modesta diante dos 400% de avanço em suas receitas britânicas no período.

Mas o Facebook teria pago mais impostos se não tivesse se beneficiado de vantagens legais relacionadas à concessão de ações a empregados para reduzir seu total de impostos devidos em mais de 50%.

Um advogado empresarial britânico, que pediu que seu nome não fosse mencionado, disse que a mudança poderia elevar em 25% o imposto pago pelo Facebook em países como a Alemanha e a França.

"Outras empresas seguirão esse exemplo, porque está se tornando cada vez mais difícil usar uma empresa local para administrar as vendas mas afirmar que o dinheiro que elas geram será contabilizado na Irlanda", ele acrescentou.

O Google também tentou demonstrar que está disposto a pagar mais impostos na Europa, fechando um acordo para pagar £130 milhões em impostos no Reino Unido, em prazo de dez anos.

O acordo com a receita britânica inclui pagamento de impostos pelo Google sobre uma parcela do faturamento com suas vendas de publicidade a anunciantes do Reino Unido, o segundo maior mercado da empresa, atrás dos Estados Unidos.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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