Folha de S. Paulo


Crítica

Algoritmos resolvem dúvidas na hora de jantar e de se casar

Zhukov Oleg/Shutterstock
Um algoritmo, a Lei de Moore, possibilitou a redução do tamanho dos chips
Um algoritmo, a Lei de Moore, possibilitou a redução do tamanho dos chips

Hoje, poucas palavras causam mais ansiedade do que "algoritmo" —magia negra das corporações que controlam o consumo de informação, o trânsito e a propaganda a que somos expostos.

Por sorte, a definição da palavra é simples. Um algoritmo é uma sequência de passos para resolver um problema, ou seja, um manual de instruções para lidar com um conjunto de dados.

A desmistificação desse conceito, relevante inclusive para o exercício da nossa cidadania digital, é o maior trunfo de "Algoritmos para Viver", do escritor Brian Christian e do professor de ciência cognitiva Tom Griffiths.

Noções básicas de matemática, como probabilidade, explicam um algoritmo para otimizar apostas em caça-níqueis. Com um pouco de funções e logaritmos, aprende-se a organizar uma estante.

A proposta dos autores é uma conversa entre a autoajuda e a ciência da computação, surfando na onda de sucessos como "Freakonomics", que trazem a teoria para a realidade prática.

Para quem estiver disposto a confiar na matemática, existem algoritmos para decidir com quem casar, onde comer e que casa comprar.

É o caso do matemático Michael Trick, que, nos conta o livro, calculou com cuidado qual seria a melhor candidata para ser sua esposa —e depois foi rejeitado pela moça.

PROGRAMAÇÃO

Os algoritmos surgiram para resolver problemas matemáticos muitos anos antes de computadores existirem, em situações em que não há como saber tudo de antemão.

O melhor momento para vender uma casa, se não sabemos qual será o valor das ofertas futuras, é um bom exemplo de problema que precisa de um algoritmo.

Na programação, que se trata, em sua essência, de escrever sequências de instruções para obter um resultado eficiente, a tática cai como uma luva. Por ter uma quantidade limitada de espaço, energia e poder de processamento, uma máquina sempre tem que escolher suas prioridades, e essa é a utilidade primordial de um algoritmo.

Como decidir o que fica alocado na memória RAM (rapidamente acessível) e o que fica armazenado longe do processador, no disco rígido (de difícil acesso)? Se o computador não sabe quais arquivos o usuário vai precisar nos próximos cinco minutos, não há uma resposta certa.

Mas não é preciso saber a melhor saída —basta saber a estratégia (ou algoritmo) que geralmente é mais eficiente.

O ensinamento mais útil da autoajuda de Griffiths e Christian é que jogar a toalha diante de problemas difíceis pode ser um ato de inteligência, e não de covardia. É uma questão de estratégia e de confiar no que provavelmente vai certo, mesmo que não dê (e seu computador trave).

GRANDES DADOS

O termo "big data" foi, recentemente, considerado fora de moda pela consultoria Gartner, que mantém atualizada uma curva de tendências recentes na tecnologia.

O motivo não é que analistas tenham abandonado as estratégias algorítmicas para organizar grandes volumes de dados, e sim que isso já se tornou banal. Mas corremos o perigo de banalizar algo que ninguém sabe o que é.

Algoritmos Para Viver - A Ciência Exata das Decisões Humanas
Brian Christian, Tom Griffiths
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Fato é que ser didático com matemática não é tão fácil quanto parece, e isso afugenta leigos. É um problema do livro. Na tentativa de simplificar um assunto árduo, "Algoritmos para Viver" às vezes coloca a carroça na frente dos bois, e alguns trechos são quase incompreensíveis.

É melhor ler com um lápis e uma folha de papel, e, no caso de dúvidas, recorrer ao algoritmo de busca do Google. O empenho vale a pena para viver na era em que "big data" não é mais novidade.

ALGORITMOS PARA VIVER
QUANTO: R$ 69,90 (528 PÁGS.)
AUTOR: BRIAN CHRISTIAN E TOM GRIFFITHS
EDITORA: COMPANHIA DAS LETRAS

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CALCULANDO A VIDA

Aplicações práticas de algoritmos no cotidiano

QUANDO CASAR?

Nunca se sabe se, virando a esquina, está sua alma gêmea. Mas quem é muito seletivo fica sozinho. Qual o melhor momento para parar? Supondo que você vá conhecer 100 pessoas, analise as primeiras 37 sem se comprometer. Depois, escolha a primeira que for melhor ou equivalente à melhor das anteriores. Não é promiscuidade, é estatística

ONDE ESTACIONAR?

O problema de onde estacionar é parecido com o do casório. Trata-se de buscar a "parada ótima", melhor momento para parar de procurar e não gastar combustível demais. O estudo de probabilidade indica que, se 85% das vagas estão ocupadas, você só precisa se contentar com qualquer uma quando estiver a um quarteirão de distância

ONDE COMER?

Quando vamos em um restaurante novo, corremos o risco de que ele seja ruim. Em alguns casos, porém, podemos dar uma segunda chance ao cozinheiro. Então siga o índice de Gittins. Atribua um valor inicial ao restaurante, e, em cada deslize, desconte um valor da nota. Só repita restaurantes que ficarem acima de uma nota específica

COMO ORGANIZAR?

Para organizar uma estante em ordem alfabética, separe os livros em pilhas de dois, organize ambos na ordem e, depois, junte as pilhas. É o método mais eficiente. Mas há uma má notícia para os arrumadinhos —talvez o custo de buscar um livro (na desordem) seja muito baixo para justificar esse esforço. Aproveite o caos, se conseguir


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