Folha de S. Paulo


Ambiente de negócios no Brasil é horrível, diz executivo do Banco Mundial

Fabio Braga/Folhapress
Crédito não sustenta economia no longo prazo, diz diretor do Banco Mundial
Otaviano Canuto, diretor do Banco Mundial

Para Otaviano Canuto, diretor executivo do conselho de administração do Banco Mundial, é mais importante do que nunca resolver o "ambiente de negócios horrível" e a carência de infraestrutura no Brasil.

A declaração foi feita nesta segunda-feira (27), em evento do Instituto República, presidido pelo economista Octavio de Barros. O tema da discussão eram as cadeias globais de valor entre países.

"Se, por um lado, a globalização tornou menos importante o custo da mão de obra e os recursos naturais no desenvolvimento dos países, o ambiente de negócios é cada vez mais relevante", disse Canuto.

"Os requisitos de um bom ambiente de negócios têm uma importância tremenda, como a resolução rápida de pendências contratuais e trabalhistas, investimento em infraestrutura e fim de práticas protecionistas. No Brasil, o capitalismo não funciona. É o país onde empresas ineficientes mais sobrevivem."

No evento, Jorge Arbache, secretário de assuntos internacionais do Ministério do Planejamento, disse que a mudança nas cadeias produtivas entre países pode gerar ainda mais desigualdade.

"Nós pensávamos que iria acontecer uma convergência entre os países emergentes e os mais desenvolvidos, mas quiçá veremos um aumento da desigualdade", disse Arbache.

"A diferença não está mais na concentração de bens de capital nos países ricos, e sim na gestão de plataformas de tecnologia. Pensava-se que a internet ia democratizar a abertura de negócios, mas vemos o contrário, uma absurda consolidação do mercado de economia digital."

Ele afirma que o deslocamento do setor de serviços do mercado regional para grandes empresas (como Uber, Amazon) leva a uma fuga de capital do país.

Henri Philippe Reichstul, ex-presidente da Petrobras, também presente no evento, afirmou que "o Brasil é uma baleia que quer ser uma sereia".

"É um bicho grande, que se move lentamente. Faz 20 anos que falamos de cadeias de valor, mas qual a cadeia que existe aqui no Mercosul, ou na indústria automobilística? Deixa a turma aqui da economia falar e a baleia continua lá, na dela."

Reichstul afirma que, com a concentração de tecnologia em países ricos, é "perigoso" voltar à teoria da dependência e do colonialismo. "Somos uma economia muito protegida e fechada, e essa proteção não é boa. Precisamos pensar um modelo não ideologizado de desenvolvimento."


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