Folha de S. Paulo


Crítica

Físico imagina colonização de novas galáxias pelas máquinas

Giuseppe Cacace - 29.out.2017/AFP
Austríacos inspecionam o deserto de Dhofar (Omã) antes de simulação de missão para Marte
Austríacos inspecionam o deserto de Dhofar (Omã) antes de simulação de missão para Marte

Enquanto a discussão sobre os impactos da ascensão da inteligência artificial neste século engatinham, o professor de física do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos EUA) Max Tegmark já pensa o futuro olhando um prazo bem maior.

Mais especificamente, imagina como será a vida daqui a bilhões de anos, quando não houver mais Sol e a população terrestre terá de colonizar novas galáxias.

Essa exploração espacial, com direito a discussões sobre como extrair imenso volume de energia de buracos negros, é um dos temas de seu livro "Life 3.0" (Vida 3.0, ainda sem tradução para o português), extenso apanhado sobre as imensas possibilidades e ameaças trazidas pelo desenvolvimento da inteligência das máquinas.

O conceito que dá nome à obra é resultado de uma concepção de vida ampla adotada pelo autor.

Grosso modo, a primeira versão dela é aquela cujo aprimoramento acontece muito lentamente, apenas pelas variações acumuladas por sucessivas reproduções. O segundo estágio de evolução, no qual está a humanidade, se caracteriza pela capacidade de se aprimorar durante a existência do indivíduo a partir de suas experiências.

Finalmente, o que Tegmark vê emergir conforme cresce o poder de computação é uma nova forma de vida, que, criada artificialmente, será capaz de se reproduzir e aprimorar seu software e hardware por conta própria em velocidade exponencial –e, talvez, conquistar o Universo.

A obra traz um prelúdio perturbador que ilustra o potencial de evolução. Nele, uma empresa lança, sem alarde, o Prometeus, um software com grande inteligência e capacidade de se aprimorar sozinho. Sua primeira função era ganhar dinheiro em tarefas que não exigissem muita criação do tipo transcrever gravações).

Com o sucesso da empreitada, capaz de gerar milhões em um único dia, Prometeus começa a ser empregado para funções mais complexas, como criar filmes a partir do gosto dos espectadores, ter canais de mídia, desenvolver novas empresas e influenciar a política. Tudo isso sem ser notado. O resultado desse domínio irá gerar emoções misturadas para o leitor.

Sem resposta definitiva, o autor aponta outras possibilidades de futuro para convivência entre humanos e máquinas. Deixa claro que a questão está em aberto e depende das opções que tomamos agora, no momento em que essa tecnologia floresce e definimos seus objetivos.

Entre os possíveis cenários descritos na obra estão o de uma humanidade servida por uma inteligência suprema que, conhecendo os desejos de cada um, dá a todos o maior deleite possível.

No extremo oposto, está o futuro em que a humanidade, ciente de sua impotência diante do seres superiores que ajudou a criar, sai de cena orgulhosa como pais que veem seus filhos brilharem.

Também há saídas intermediárias, como estancar o desenvolvimento da inteligência em níveis mais controláveis ou mesmo buscar fusões entre homens e máquinas.

SEGURANÇA

Apesar do olhar para o futuro distante, Tegmar também consegue trazer discussões filosóficas (máquinas podem ter consciência?) e outras práticas e urgentes.

Sua maior preocupação está nos riscos à segurança que ela pode trazer. Entre os desafios, estão garantir que haja maior proteção contra bugs e ataques de hackers que possam levar a consequências desastrosas –como panes em aviões sem piloto ou quedas na rede elétrica.

Outro problema de difícil solução é a possibilidade de que sejam criadas armas inteligentes, capazes de destruir seu alvo sem deixar rastros. Como impedir que elas se espalhem? Abdicar de seu desenvolvimento não seria arriscado, visto que os adversários poderiam seguir com ele?

Com toda essa vastidão de questões em aberto, o livro é um excelente mapa para se aproximar dos debates a respeito do futuro, tanto por sua capacidade de atiçar a imaginação como também de apresentar debates que ganharão força em em breve.

Life 3.0
QUANTO: R$ 43,80 (384 PÁGS.)
AUTOR: MAX TEGMARK
EDITORA: KNOPF


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