Folha de S. Paulo


Preço de produtos é mais errático nas lojas virtuais na Black Friday

Mark Ralston/AFP
Black Friday em loja da varejista Best Buy na Califórnia; preços virtuais são mais erráticos
Black Friday em loja da varejista Best Buy na Califórnia; preços virtuais são mais erráticos

De acordo com especialistas em comércio, a variação de preços nas ofertas feitas antes, durante e depois de datas promocionais, como a Black Friday, muitas vezes não tem nenhuma relação com a precificação do produto ou a tentativa de ganhar mais simulando valores.

As oscilações também podem fazer parte de estratégias de marketing para atrair o consumidor e alimentar o seu desejo por um produto.

As táticas estão se tornando mais sofisticadas especialmente no comércio on-line.

Atualmente, a maioria das lojas virtuais, de todos os portes, já trabalha com um sistema conhecido como precificação dinâmica, usando softwares que levam em conta diversos critérios para definir o valor que será cobrado do cliente em cada produto.

Além de variáveis como tamanho do estoque do varejista e demanda pelo item, esses mecanismos fazem um monitoramento para verificar o preço que os concorrentes cobram em cada produto.

"Se o concorrente subiu o preço de um produto, não faz sentido você ficar cobrando muito menos pelo mesmo item. Em outro exemplo, se você tem um produto que já está esgotado na concorrência, pode cobrar mais. Esse pode ser um dos motivos para essa variação toda nos preços", afirma Mauricio Salvador, presidente da ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico).

O comportamento dos preços é menos errático em lojas de shopping ou de rua porque a comparação feita pelo consumidor em lojas físicas é menos prática, diz Salvador.

"Na internet, o consumidor consegue entrar em um comparador e ver de 10 ou 15 lojas virtuais diferentes. Na loja física não há uma necessidade tão agressiva de atualização", afirma.

Salvador lembra que alguma lojas já estão antecipando os desconto da Black Friday e que isso pode estar influenciando a oscilação de preços nos últimos dias.

"O 'esquenta Black Friday' já está reduzindo alguns preços. Isso acaba influenciando a precificação dinâmica. E é óbvio que há quem se aproveita da Black Friday. Mas a gente sabe que é uma ou outra loja, com um produto aqui, outro ali", diz.

IMPACTO

Para Francesco Weiss, sócio da Intellibrand, empresa especializada em inteligência de dados de comércio virtual, existe um impacto psicológico nas mudanças.

"Nas épocas sazonais de campanha, em que todo o mundo está olhando [preços], eles começam a fazer as variações", diz Weiss, que ressalta o papel da indústria como agente na precificação dos produtos que ela encaminha ao varejo.

"Muitas indústrias têm contratos que impedem que o varejista manipule os preços e os baixe a um certo nível. Se ele baixar demais, pode perder o direito de vender os produtos porque isso queima os outros canais como as lojas físicas", diz. A sazonalidade, ou seja, o aumento da demanda em determinadas épocas, é outro fator na estratégia de preços. Em datas como Dia das Mães e Black Friday, muitos fabricantes costumam liberar descontos mais agressivos.

MARKET PLACE

Outro fator que influenciou nas oscilações de preços foi o surgimento do "market place", um espaço dentro de grandes lojas on-line, com diversos fornecedores terceirizados que podem entregar seu produto diretamente ao consumidor.

Na prática, o site do grande varejista passa a ser uma espécie de vitrine para todas as opções oferecidas pelos diversos fornecedores (modelo que a norte-americana Amazon popularizou).

A empresa "vitrine" fica com uma comissão na venda, em geral de 15%.

Para escolher quem ficará em evidência em seu site, o grande varejista considera diferentes fatores, como preço pedido pelo item, valor do frete oferecido ao consumidor e condições de entrega.

A Via Varejo, que administra os sites das Casas Bahia, do Pontofrio e do Extra, afirma que eventuais mudanças nos preços e nos descontos podem decorrer da exposição de diferentes fornecedores.

A especialista em varejo Ana Paula Tozzi, da AGR Consultores, lembra que, às vezes, ocorrem excessos, em especial às vésperas da datas promocionais.

Para ela, seria um reflexo da imaturidade de algumas empresas na tentativa de antecipar o desejo de consumo.

"Deixar o consumidor confuso em relação ao preço pode fazer com que ele compre por impulso", afirma Tozzi.

Ela acredita que neste ano as redes estão mais coerentes e cuidadosas em relação às ofertas. Muitas, segundo ela, traçaram táticas comerciais para elevar o tíquete médio (gasto médio por usuário) com ofertas de produtos mais caros, como televisores.

OUTRO LADO

As empresas que apresentaram as maiores oscilações de preços no levantamento realizado pela Folha afirmam que a precificação dos produtos é complexa e envolve critérios diversos. Elas negam que estejam tentando enganar o consumidor.

A Via Varejo, que administra Casas Bahia, Pontofrio e Extra, diz que as ofertas passam por "eventuais alterações" devido a "políticas mercadológicas que envolvem uma série de fatores".

Campanhas promocionais que ocorrem sazonalmente também impactam o preço, segundo a varejista.

A empresa cita ainda o conceito de market place (espaço na loja virtual reservado a lojas parceiras) para justificar as variações.

"É um ambiente administrado por grandes empresas de varejo no comércio eletrônico que permite a lojistas de todos os tamanhos ofertarem seus produtos em sites de alta visibilidade, viabilizando a pesquisa de centenas de ofertas em um único local e permitindo ao cliente comparar preços, condições de pagamento e prazos de entrega", diz a empresa em nota.

A Via Varejo conta com aproximadamente 3.000 lojistas, que comercializam em torno de 1,5 milhão de itens.

Sobre o celular Galaxy no Extra identificado pela reportagem, cujo preço subiu e o desconto apresentado ficou ainda maior, a empresa afirma que o item foi oferecido por vendedores diferentes.

Para o Submarino, é normal que haja flutuações nos preços, que podem ocorrer por causa do "marketplace".

Outra varejista citada, a Ricardo Eletro, diz que tem "o compromisso de buscar o melhor preço para seus clientes" e que sua política de precificação "deriva da intensa negociação de cada item e lote com seus fornecedores, podendo, portanto, sofrer oscilação de preços e de seus respectivos descontos segundo recomposição de estoque".

O Walmart.com também afirma que "preza pelo respeito ao consumidor e acredita que todo seu processo de precificação e promoções não confunde o consumidor, prova disso é o bom desempenho do Walmart.com apurado por sérias entidades de defesa do consumidor, como o Reclame Aqui e o Procon".

O Magazine Luiza afirma que não faz alteração de preços em seus produtos do e-commerce. O valor pelo qual o item é registrado permanece no site, segundo a empresa.

Procurada, a rede Fast Shop não se manifestou até a conclusão desta edição.

Colaborou TATIANA VAZ

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DESCONTOS ARTIFICIAIS
Diferentes métodos podem confundir o consumidor nos sites de lojas

1 - Preço sobe, mas desconto também cresce
Apesar de o produto ter ficado mais caro, o percentual do desconto apresentado se mantém ou até aumenta

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2 - Preço não se altera, mas desconto aumenta
O valor cobrado pelo produto segue inalterado, mas o percentual de desconto fica maior

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3 - Preço sobe, mas desconto permanece
Apesar de ter ficado mais caro, produto ainda aparece como em promoção (ainda que em percentual menor)

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4 - Aumento de desconto desproporcional
Apesar de ter ficado mais barato, produto aparece com desconto "inflacionado"

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Incidência de cada tipo de artifício por loja - Em % de itens

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