Folha de S. Paulo


Para desempregados em São Paulo, reforma trabalhista não faz diferença

Nas agências de emprego do centro de São Paulo, o clima é de falta de perspectiva de conseguir uma boa vaga e indiferença quanto às mudanças da reforma trabalhista.

Desempregado há um ano, Edivanir Serafim, 32, é formado em recursos humanos e faz pós-graduação em design, além de uma segunda graduação em artes.

"Trabalhei por seis anos no varejo e três anos em uma clínica. Não tinha uma função nada espetacular, mas mesmo assim não consigo achar uma vaga compatível com o que eu ganhava antes, que já era bem pouco", afirma.

Para ele, uma maior oferta de empregos —uma das promessas da reforma trabalhista— não é necessariamente boa para o trabalhador. "São vagas desumanas, com salários baixíssimos. A crise no Brasil abriu oportunidade para que abaixassem salários."

O rendimento médio dos trabalhadores em São Paulo passou por períodos de queda durante a crise, como o terceiro trimestre de 2015 e segundo de 2016, mas vem aumentando lentamente, em média.

Como Edivanir, os desempregados ouvidos pela Folha desistiram de arranjar emprego em suas áreas de estudo e sondavam vagas que exigem menos qualificação, como limpeza e recepção.

Karina Soares, 30, fez técnico em informática e trabalha como freelancer com edição de vídeos, mas está disputando vaga em uma loja de brinquedos. Ela procura emprego há doze meses, mesma situação de seu namorado, Marcelo Luiz, 31.

Taxa composta da subutilização da força de trabalho - Agrega a taxa de desocupação, taxa de desocupação por insuficiência de horas e da força de trabalho potencial, em %

"Com a reforma vai piorar, com certeza. As empresas vão demitir funcionários para substituir por outras formas de trabalho", diz Karina.

O adolescente Cauã Gustavo, 17, que cursa o terceiro ano do ensino médio, trabalha em agência de empregos da rua Barão de Itapetininga há sete meses, e sente que o mercado está se recuperando no segundo semestre.

"A reforma trabalhista vai trazer mais vagas. Novas formas de escravidão para ajudar empresários", afirma. "O problema aqui é que as pessoas não têm qualificação para os melhores empregos."

Os clientes da sua agência exigem seis meses ou um ano de experiência com carteira assinada, e referências e trabalho informal geralmente não bastam para a seleção.

Aos candidatos que passam pelo calçadão, Cauã distribui panfletos e dá dicas de currículo. "Osasco [Grande São Paulo] no endereço não dá. Não pegam", diz. "Mas eu moro ali no Butantã [zona oeste]", protesta o atendido.

Uma mãe, C.M., acompanhada pelo filho na agência, conta que não conseguiu vaga em um supermercado porque não constava em sua carteira que ela tinha experiência específica cortando frios. "Não me deixaram provar que sei cortar salame."

"O meu menino aqui, coitado, está desesperado. Preenche os formulários e coloca a pretensão salarial de R$ 900. Acho que ele nem sabe que isso é menos que o salário mínimo [R$ 937]."


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