Folha de S. Paulo


Após decisão da OMC, Brasil prevê exportar frango à Indonésia em 2018

Karime Xavier/Folhapress
A judoca Stefannie Arissa Koyama, que disputará o Mundial de Budapeste pela seleção brasileira
Criação de frangos em fazenda no interior de São Paulo

O Brasil avalia que a decisão desta terça-feira (17) da OMC (Organização Mundial do Comércio) em painel aberto contra a Indonésia permitirá a eliminação de entraves à exportação da carne de frango brasileira, possibilitando que os embarques ao importante mercado asiático comecem já no ano que vem.

Segundo o subsecretário de Assuntos Econômicos do Itamaraty, Carlos Cozendey, a OMC reconheceu nesta terça que a Indonésia colocava limitações sem justificativa a importações de frango do Brasil, o maior exportador global do produto.

Cozendey ressaltou que o Brasil conseguiu derrubar na OMC todas as dificuldades que a Indonésia colocava para exportações: barreiras sanitárias, lista de limitação de importação e demora excessiva na emissão de licenças.

"Entendemos que a decisão vai permitir eliminação de entraves. O painel também reconheceu que a Indonésia colocava limitações sem justificativa às importações", disse a autoridade do Ministério de Relações Exteriores a jornalistas.

O potencial do mercado da Indonésia para a carne de frango do Brasil é estimado pelo governo brasileiro em US$ 70 milhões a US$ 100 milhões por ano, no médio prazo.

Cozendey disse que o país já trabalha na implementação da decisão da OMC, pois acredita que, mesmo que a Indonésia recorra, uma nova posição do órgão de comércio não alteraria significativamente o que foi decidido.

A partir da publicação da decisão da OMC, o que deve ocorrer no dia 22 de outubro, o Brasil já começará a negociar com a Indonésia como será o cumprimento das diretrizes do órgão de comércio multilateral.

Dessa forma, o Brasil acredita que poderá começar a exportar para a Indonésia a partir de 2018.

"Essa é uma vitória fundamental, que deve impactar positivamente no desempenho das vendas de carne de frango em 2018", disse o presidente-executivo da Abpa (Associação Brasileira de Proteína Animal), Francisco Turra, em nota.

"A estimativa é chegar a US$ 70 a US$ 100 milhões anuais em exportações em dois a três anos. Pode até surpreender e ser mais, pode ter um potencial maior. Esse é o cálculo inicial", acrescentou o vice-presidente de mercados da ABPA, Ricardo Santin, após uma coletiva de imprensa em Brasília.

"A questão com a Indonésia não é que ela não importa do Brasil. Ela não importa de ninguém. É uma questão de proteção do mercado interno. A decisão vai abrir para todo mundo", acrescentou Santin, destacando que o Brasil enfrentará competição dos Estados Unidos e Irlanda pelo mercado.

"Mas o Brasil é muito mais competitivo", completou. Segundo Santin, o Brasil exporta partes de frango, como pescoço e coxa desossada, que os Estados Unidos, por exemplo, não teriam disponíveis para vendas.

Entre os grandes exportadores de carne de frango do Brasil estão a BRF e a JBS, cujas ações operavam em baixa de mais de 2% na tarde desta terça-feira na Bolsa.

MERCADO ISLÂMICO

Maior produtor e exportador de frango halal do mundo, o Brasil também tem a vantagem competitiva de vender um produto demandado pelo mercado islâmico, que recebe um terço do que o Brasil exporta.

Em 2016, apenas o Oriente Médio —principal destino dos embarques brasileiros— importou 1,57 milhão de toneladas, gerando receita superior a US$ 2,3 bilhões de dólares, segundo a Abpa. Ao todo, o Brasil exportou 4,38 milhões de toneladas no ano passado, com receita de US$ 6,8 bilhões, de acordo com dados da Abpa.

Com população de maioria muçulmana, a Indonésia é um dos mercados com maior potencial de crescimento no consumo de proteína animal mundial, ressaltou a associação.

A Abpa já está em contato com associação de produtores e processadores de frango da Indonésia, para iniciar os negócios. Uma missão esteve aqui no Brasil no mês passado para começar os primeiros contatos, revelou Santin.

Toda a produção de frango da Indonésia, de 1,64 milhão de toneladas em 2016, é direcionada ao mercado doméstico, segundo a ABPA.

O Brasil ainda tem outro painel aberto na OMC para discutir limites contra exportações de carne bovina.


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