Folha de S. Paulo


Brasil pode ser rebaixado se não sair a reforma da Previdência, ameaça S&P

Se o governo fracassar em aprovar a reforma da Previdência ou se indicar que tenta ganhar tempo para negociar as mudanças, a nota de crédito do Brasil pode sofrer novo rebaixamento, afirmou Joydeep Mukherji, analista da agência de classificação de risco S&P Global Ratings, na quinta (12).

As declarações foram feitas durante apresentação pela internet sobre as perspectivas para os países emergentes neste ano e no próximo.

Na S&P, o Brasil tem nota de crédito BB, com perspectiva negativa, o que significa que o país tem uma chance em três de sofrer novo rebaixamento.

Segundo Mukherji, a agência espera alguma sinalização de que o Planalto vai tentar aprovar a reforma antes do início das campanhas para as eleições de 2018, de forma que o próximo governo consiga se dedicar a passar outras mudanças fiscais.

"O que nós procuramos agora não é uma estabilização milagrosa do endividamento, porque ele vai continuar crescendo nos próximos três ou quatro anos facilmente, sob qualquer cenário", afirmou. "O que estamos olhando é se o governo pode dar alguns passos agora, antes das eleições de 2018, para dar mais espaço para o próximo governo lidar com essa questão."

"Estamos tentando ver se o governo [do presidente Michel] Temer, após todas as acusações contra ele, ainda tem capacidade de fazer avançar a reforma da Previdência, assim como outras que são importantes, mas não tão emblemáticas hoje", complementou.

O próximo governo já vai herdar um grande problema fiscal, ressaltou o analista, independentemente do que a atual Administração fizer. Então o que a S&P busca é um "passo significativo" do Planalto para dar fôlego ao próximo governo. "Se isso não acontecer ou se parecer que não vai acontecer, o rating pode ser rebaixado. Nós esperamos resolver isso antes das campanhas eleitorais começarem no próximo ano", ressaltou.

Para o ministro Henrique Meirelles (Fazenda), "absolutamente normal" que a agência considere rebaixar novamente a nota de crédito do Brasil se o governo fracassar em aprovar a reforma.

"Nós temos dito –e várias vezes repetido– que a aprovação da Previdência é fundamental para a sustentabilidade a longo prazo das contas públicas no Brasil, e que quanto mais cedo isso ocorrer, melhor", disse o ministro em Washington durante a Conferência Econômica sobre o Brasil, organizada pela Câmara de Comércio Brasil-EUA na capital americana.

Ele, contudo, disse que as agências têm dado "uma demonstração de confiança muito grande no Brasil". "Elas estão cumprindo a sua função, fazendo seus alertas, que estão em linha com tudo aquilo que temos dito e temos, de fato, mostrado", declarou Meirelles. "Eu não me preocupo com o trabalho deles, mas eles têm que se preocupar com o nosso."

SEM REFORMA

Em agosto, a agência S&P retirou a observação negativa sobre a nota brasileira, colocada em maio após a crise provocada pelo vazamento da delação do empresário Joesley Batista, da JBS, que mergulhou o governo em caos político.

Nesta terça-feira (10), a Moody's afirmou que terá mais facilidade para decidir sobre o rating do Brasil se o país não aprovar uma reforma da Previdência até o início de 2018.

"Se não houver nenhuma reforma nem expectativa de que ela saia antes de 2019, aí nossa decisão será mais fácil", disse o responsável por ratings soberanos de América Latina na Moody's, Mauro Leos, sinalizando que neste cenário a expectativa mais pessimista para o rating brasileiro se consolidaria.

A agência classifica atualmente o país com nota Ba2, com perspectiva negativa, o que indica que se houver alguma mudança do rating seria para baixo.

HISTÓRICO

O Brasil é considerado mau pagador pelas três principais agências de classificação de risco em atuação. Quanto melhor a classificação de um país, menor tende a ser o desembolso com os juros dos financiamentos, e vice-versa. Um país que tem grau especulativo é visto como tendo uma capacidade inadequada de honrar seus compromissos financeiros.

Para investidores estrangeiros, a avaliação das agências serve como termômetro para saber se a remuneração de um papel está adequada ao risco do investimento.

A S&P foi a primeira agência a retirar o selo de bom pagador do país, em setembro de 2015. Três meses depois, foi a vez de a agência Fitch também retirar o grau de investimento do Brasil.

A Moody's foi a última a rebaixar a nota de crédito do país, em fevereiro do ano passado.

A S&P foi a primeira agência de classificação de risco a elevar o Brasil ao chamado grau de investimento, em abril de 2008, no segundo mandato do presidente Lula. Depois, Fitch (maio de 2008) e Moody´s (setembro de 2009) também deram a mesma chancela ao Brasil.

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