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Próximo presidente do Bradesco sairá da diretoria do banco, diz Trabuco

Karime Xavier/Folhapress
Polícia Federal indicia o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, na Operação Zelotes, que investiga a venda de sentenças do Carf
Luiz Trabuco, atual presidente do Bradesco, vai assumir a presidência do conselho de administração

O próximo presidente do Bradesco sairá da diretoria executiva do banco, afirmou nesta quarta-feira (11) o atual ocupante do cargo, Luiz Carlos Trabuco, em entrevista convocada para detalhar as mudanças no conselho de administração da organização.

Respeitando a tradição do Bradesco de escolher um nome dentro de seus quadros, a expectativa é que o futuro presidente seja um dos sete atuais vice-presidentes da instituição.

Na terça-feira (10) à noite, o Bradesco anunciou a renúncia de Lázaro Brandão da presidência do conselho de administração do banco. Brandão, que está no Bradesco há mais de sete décadas, será substituído por Trabuco à frente do conselho.

A vaga de Trabuco na vice-presidência do conselho será ocupada por Carlos Alberto Rodrigues Guilherme, que começou a trabalhar no banco aos 13 anos.

"O próximo presidente será egresso do corpo executivo do Bradesco", confirmou Trabuco. "A organização é complexa, somos uma organização grande, segmentada. Tudo isso vai refletir no melhor perfil para a escolha do profissional, não há surpresas do ponto de vista de uma antecipação desse processo".

Trabuco ocupará os dois cargos até março, quando ocorrerá a primeira reunião do conselho após a assembleia de acionistas. O banco tem um regulamento que proíbe que um mesmo executivo ocupe os dois cargos ao mesmo tempo.

"É uma tradição salutar que os bancos brasileiros adotaram e que reflete a boa governança corporativa. Os processos sucessórios têm que guardar uma memória. Os fatos do passado se refletem no presente e no futuro da organização", disse Trabuco.

O banco deve entregar ao Banco Central o nome do novo presidente 30 dias antes da reunião de março.

Segundo Brandão, que estava no cargo havia 27 anos, a sucessão vinha sendo maturada há algum tempo. Porém, para não tomar nenhuma decisão precipitada, ele preferiu alterar a regra que forçaria Trabuco a deixar a Presidência do banco ao completar 65 anos, para prorrogar o mandato do executivo.

"A prorrogação do mandato de Trabuco foi para que a decisão fosse tomada com tranquilidade", afirmou. "Na ocasião, ainda não estava confirmado, ainda tinha uma pendência envolvendo a sucessão do presidente do conselho. Eu estava um pouco em dúvida, era prudente que não se precipitasse."

"Trabuco reúne todas as condições para realizar um bom trabalho. Além de ser vice-presidente do conselho, é o presidente executivo que tem tido todo o trabalho de alcance que o banco tem tido e se consolidado e contribuído para reerguer o país."

A extensão ocorreu ainda para manter o processo de integração do HSBC, comprado pelo Bradesco em 2015. "A decisão de renúncia, de passar a presidência do conselho para a minha pessoa, é um ato soberano, um ato pensado", afirmou Trabuco.

Para ele, o próximo presidente do banco terá alguns desafios pela frente, em especial no que tange a "alfabetização" dos clientes que ainda estão distantes do ambiente digital. "Esse é o nosso grande desafio. Nós temos 14 milhões dos 27 milhões de clientes que fazem transações digitais. Os outros vão ter de ser alfabetizados", ressalta.

O banco deve também ampliar também seu conselho de administração, mas isso não deve acontecer na reunião de março, segundo Brandão. Nesse encontro, só deve ser preenchida a vaga que está aberta atualmente.

GOVERNO ESFACELADO

Brandão comentou também as perspectivas para a economia brasileira. "O Brasil tem potencialidade, tem credibilidade, mas tem essa desconfiança do processo de produção das atividades em que há um descompasso entre política, no Congresso e no governo e outras áreas de atuação. Essa seletividade dos critérios, seja Lava Jato ou outras coisas, o país vai se vacinar", afirma.

Para ele, o governo está esfacelado. "Não tem unidade, não tem propósitos muito definidos. Mas se iniciou com a reforma trabalhista, a coisa vai ser lenta, mas o Brasil terá condições de ter socialmente uma harmonia que dá muita tranquilidade e certamente pode se arrastar um pouco para chegar a um ponto de equilíbrio, mas inquestionavelmente teremos o país recolocado nos eixos", afirmou.

"Não vai ser talvez com tanta brevidade, mas tem as credenciais para se tornar um país com normas definidas."

Trabuco, por sua vez, acredita que um dos fatores da retomada da economia brasileira será o consumo das famílias. "O que nos faz ser otimistas no curto prazo, a despeito da economia e da política. A economia brasileira está descolada do processo político, é só observar o volume de investimentos estrangeiros diretos, que têm batido recorde", ressalta.

Em relação ao crédito, Trabuco não quis falar sobre projeção para o banco, mas afirmou que o crescimento da economia deve provocar um efeito multiplicador no crédito.


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