Folha de S. Paulo


Empreiteiras investigadas pela Lava Jato retomam obras sem BNDES

Eduardo Anizelli/Folhapress
SÃO PAULO, SP. 18.12.2016: : ODEBRECHT-EMPRESA - Fachada da sede da Odebrecht na zona oeste de São Paulo. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress)
Fachada da sede da Odebrecht na zona oeste de São Paulo

Empreiteiras investigadas pela Operação Lava Jato encontraram fontes alternativas de financiamento para tocar projetos no exterior que contavam com empréstimos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e foram suspensos pelo banco no ano passado.

Em maio de 2016, logo após o impeachment de Dilma Rousseff e sua substituição pelo presidente Michel Temer, o banco bloqueou recursos destinados a 25 obras de construtoras brasileiras no exterior alegando que precisava reavaliar os contratos assinados pelo governo petista.

Desde então, apenas três projetos tiveram dinheiro liberado novamente, após a assinatura de termos de compromisso em que as empreiteiras e os países que as contrataram prometem adotar medidas para impedir que ocorram desvios nas obras.

As próprias empreiteiras conseguiram garantir recursos de governos e bancos estrangeiros para reativar outros cinco projetos sem o financiamento do governo brasileiro e negociam com bancos internacionais empréstimos para retomar mais três.

O BNDES foi a maior fonte de financiamento dos projetos das empreiteiras no exterior nos últimos anos. Entre 2007 e 2015, o banco oficial aprovou empréstimos no valor total de US$ 14 bilhões para obras em 13 países. Os
25 contratos com recursos bloqueados no ano passado representavam metade disso.

PROJETOS APROVADOS PELO BNDES - Em R$ milhões

PROJETOS SUSPENSOS EM 2016 - Em R$ milhões, por construtora

A Odebrecht conseguiu manter o contrato para construção de uma usina termelétrica na República Dominicana com financiamento do governo local e de um consórcio de bancos europeus que entrou no projeto com garantias da agência italiana de fomento à exportação. A italiana Tecnimond é sócia da Odebrecht no empreendimento.

A empreiteira brasileira diz ter assegurado também com bancos estrangeiros os recursos necessários para retomar as obras de duas estradas na República Dominicana. Somados, os três projetos da Odebrecht no país tiveram US$ 1 bilhão em financiamentos suspensos pelo BNDES.

A Andrade Gutierrez negocia com bancos e investidores estrangeiros a retomada de dois empreendimentos na Venezuela, uma siderúrgica e um estaleiro, para os quais o BNDES tinha garantido empréstimos de US$ 1,5 bilhão.

Na Argentina, o BNDES se retirou de um projeto contratado com a OAS que contava com US$ 165 milhões do banco oficial. A obra foi retomada com recursos do governo de uma província argentina. O BNDES informou que está analisando os demais projetos, mas não deu detalhes.

FÔLEGO

A retomada desses empreendimentos deu algum fôlego para as construtoras atingidas pela Lava Jato, mas elas ainda parecem longe de encontrar o caminho para voltar a crescer de forma sustentável. Seu faturamento caiu muito nos últimos dois anos, bem como a carteira de projetos no Brasil e no exterior.

As empresas têm encontrado dificuldades para obter obras. Com o governo federal e os maiores Estados brasileiros em situação financeira frágil, faltam recursos para novos investimentos. Alguns governos têm evitado fazer negócios com a Odebrecht, que admitiu ter pago propina em 11 países além do Brasil e é investigada em vários deles.

Angola, país africano que é um dos maiores clientes da Odebrecht, deixou de depositar garantias exigidas pelos empréstimos do BNDES e está em negociação com o Brasil para que o banco de fomento libere recursos para as suas obras.

Empresas associadas aos projetos no exterior também perderam com a suspensão dos empréstimos do BNDES.

A Ecosan, que faz equipamentos para tratamento de água e resíduos industriais, cortou pela metade sua previsão de faturamento neste ano após o cancelamento de quatro projetos na África.


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