Folha de S. Paulo


Projetos buscam reduzir o problema do lixo em oceanos

Raquel Cunha/Folhapress
RIO DE JANEIRO - RJ 17.09.2017 - Clean up Day na praia de Copacabana coordenado pela WFF. Fabieni Augusto, 37, nutricionista com a filha Luna Augusto de 2 anos participam pela primeira vez da ação.(Foto: Raquel Cunha/Folhapress, ESPECIAL )
A nutricionista Fabieni Augusto, 37, e a filha Luna, 2, durante o dia de limpeza da WWF em Copacabana

Uma réplica da estátua do Cristo Redentor feita de plástico reciclado e que custa cerca de R$ 10 é a nova lembrança da atração turística mais visitada do país.

O material descartado na região, que terminaria nos rios e na baía de Guanabara, é coletado por catadores da cooperativa Anfitriões do Cosme Velho. Em uma unidade recicladora móvel batizada de Remolda, o material é triturado, derretido e remoldado na forma do Cristo.

O sistema foi desenvolvido pelos designers da Matéria Brasil, recrutados pela ONG World Wide Fund for Nature (WWF), que busca soluções para o lixo marinho.

"Mais de 80% do plástico encontrado nos oceanos é produzido na cidade", diz a gestora ambiental Anna Carolina Lobo, do WWF-Brasil. "Parte da solução é investir em iniciativas para evitar que a poluição chegue às águas."

A equipe do projeto Remolda também coordenou, em junho, um evento de retirada de lixo marinho das ilhas Cagarras -arquipélago localizado a cerca de cinco quilômetros da praia de Ipanema. Foram retirados 34 kg de lixo (papel, papelão, plástico, vidro e eletrônicos). O material passou por triagem e, agora, vira miniaturas do Cristo.

Outro problema é o descarte de bitucas de cigarro. "É mais um passivo ambiental da indústria do tabaco: por ter mais de 4.000 substâncias tóxicas, incluindo mercúrio e cádmio, a bituca entra na mesma classificação do lixo hospitalar", diz Flávio Costaleites, idealizador do projeto Praia Sem Bituca e diretor da empresa que o gerencia, a Ecoprática.

A ideia é impedir que mais bitucas cheguem ao mar. Para isso, lixeiras em forma de cigarro são instaladas em diversas cidades do Brasil. O projeto buscava remediar o problema das bitucas em Porto Alegre (RS), mas acabou famoso nas praias de Santa Catarina. "E, no segundo semestre, faremos por dez dias uma megaoperação em praias do Rio", afirma Costaleites.

A equipe não recolhe só as bitucas, mas cava e peneira a areia. O material é enviado para indústrias de cimento. "As bitucas são misturadas a outros resíduos e incineradas para produzir energia."

Ele diz que mais de 10 milhões de bitucas já foram retiradas desde o início do trabalho, há dois anos. "Mas não é nada: dados do Instituto Nacional do Câncer sugerem que, no país, 600 milhões sejam descartadas todo dia."
Para a oceanóloga Maíra Proietti, da Furg (Universidade Federal do Rio Grande), o lixo oceânico não é só um problema de descarte inadequado pelo consumidor.

"É uma responsabilidade compartilhada, pois as empresas também precisam implementar modelos mais responsáveis", afirma Proietti.

Ela se refere à logística reversa -na qual o produto usado pode ser coletado pelo fabricante para reaproveitamento ou descarte correto.

O oceanógrafo Marcos Fernandez, da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), vai além: "Os engenheiros precisam repensar o ciclo de vida dos produtos; projeto e concepção dos bens de consumo devem ser planejados para evitar poluição."

Algumas iniciativas sinalizam que a causa ganha relevância. Em 2016, a Adidas lançou os tênis com lixo oceânico reciclado na composição. A produção foi limitada a 7.000 pares mas, segundo a organização americana Global Citizen, a empresa quer produzir um milhão de pares até o fim deste ano.

Em 2010, a Electrolux criou aspiradores domésticos de plástico retirado dos oceanos. Porém, poucos foram feitos: era só um modelo conceitual em apoio à reciclagem.


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