Folha de S. Paulo


Queda da indústria em agosto foi soluço, afirmam analistas

A produção industrial caiu 0,8% em agosto sobre o mês anterior, contrariando as expectativas da maioria dos economistas de mercado e interrompendo quatro meses consecutivos de expansão.

O resultado, dizem analistas, não coloca um ponto final no esforço de retomada observada até julho, mas sinaliza que a recuperação do setor segue o andamento da economia como um todo e se mostra bastante gradual.

Em relação a setembro de 2016, a alta foi de 4%.

A previsão, diz Rodrigo Nishida, da LCA Consultores, é que o segmento encerre o ano com expansão de 2%.

O feito não será difícil. Em razão de um efeito estatístico, números estáveis de setembro a dezembro já seriam suficientes para alcançar a projeção, explica Nishida.

Um aspecto que chama a atenção e preocupa analistas é que, após alguns anos turbulentos, a indústria ainda se encontra quase 20% abaixo do nível recorde, de 2013.

Mantido o ritmo de retomada visto até julho, o setor ainda levaria cerca de sete anos para igualar a marca de 2013.

Para encurtar esse prazo, alguns economistas veem espaço para estímulos adicionais à produção da indústria, sendo o principal deles uma taxa de juros, a Selic, mais perto de 7% no fim do ano. Hoje ela está em 8,25%.

Produção industrial - Variação em %

AUTOMÓVEIS

Olhando para as quatro grandes categorias do setor industrial, o bom desempenho de bens de capital (em especial máquinas agrícolas), e de bens duráveis, como carros, sinalizam que o pior momento para a indústria foi deixado para trás.

A gestora de recursos Azimut ressalta que a alta de 9% da produção de bens de capital na comparação com agosto de 2016 é um dado animador, pois serviria como um bom termômetro para os investimentos na economia como um todo, que ainda são bastante preocupantes.

Na abertura por ramo, 16 de um total de 24 ampliaram a produção no mês.

Do lado positivo, o destaque foi o segmento que engloba veículos automotores, reboques e carrocerias. Para a LCA, a expectativa é que, após quatro anos de queda, o setor cresça 17% em 2017.

Em 2015, por exemplo, o recuo foi de quase 26%.

Dados da Fenabrave divulgados na terça (3) foram na mesma direção. Apesar de queda em relação a agosto, as vendas de veículos subiram 24,5% em setembro sobre igual mês de 2016.

No front negativo, produtos alimentícios surpreenderam ao interromper três meses consecutivos de alta.

O setor foi influenciado pelos efeitos da seca sobre a produção de açúcar, por exemplo. Nishida, da LCA, considera o recuo pontual.

Para setembro, o Itaú Unibanco espera alta de 0,6% para a produção industrial, o que deve compensar o resultado de agosto e ajudar o quadro de recuperação gradual.


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