Folha de S. Paulo


Investir em microempresa exige cuidado, mas retorno pode compensar

Bruno Santos/Folhapress
Médico Leonardo Stellati investe 5% de seus recursos em pequenas empresas
Médico Leonardo Stellati investe 5% de seus recursos em pequenas empresas

No atual contexto de juros em queda na renda fixa tradicional, investidores em busca de retornos anuais mais atraentes podem emprestar recursos a micro, pequenas e médias empresas.

É preciso, no entanto, ficar atento aos riscos do negócio e à possibilidade de acabar sem o dinheiro caso a empresa não consiga devolvê-lo.

O investimento ocorre via empréstimo pelo modelo de "peer to peer" (pessoa a pessoa). O investidor recebe juros anualmente ou no período contratado.

É um sistema diferente do chamado equity crowdfunding, em que o resultado pode vir quando a empresa é vendida ou abre capital.

O modelo do peer to peer está sendo aperfeiçoado. Consulta pública aberta pelo Banco Central, em setembro, discute, por exemplo se cada investidor poderá aplicar, no total, R$ 50 mil em micro, pequenas e médias empresas.

Nos sites das empresas que oferecem esses investimentos, há informações sobre as companhias que buscam recursos, sobre a situação financeira delas e a taxa de retorno oferecida. Também há dados sobre a capacidade de pagamento.

Na plataforma Nexoos, por exemplo, há companhias que oferecem juros de 34,5% ao ano a seus investidores -um título público prefixado com vencimento em 2020 pagava 8,05% ao ano na última sexta (29).

Mas, quanto maiores os retornos para quem empresta o dinheiro, maiores as possibilidades de o investidor acabar perdendo o que aplicou -o que acontece em caso de calote da companhia.

Sócio da Nexoos, Daniel Gomes diz que a companhia já viabilizou empréstimos para 200 start-ups. Até chegar a esse número, foram avaliadas 17 mil interessadas.

RISCO CONJUNTO

Para reduzir as chances de perdas, algumas plataformas do setor, como Biva e IOUU, começaram a reunir empresas que buscam crédito em grupos para receberem investimentos em conjunto.

Assim, se uma empresa der calote, o investidor consegue preservar parte do recurso.

Jorge Vargas Neto, sócio da Biva, diz que os portfólios formados por microempresas têm capacidade de suportar até 45% de inadimplência sem reduzir a rentabilidade prevista dos investidores. Já os que possuem empresas médias, que costumam trazer menos risco, suportam até 16% de calote.

O retorno oferecido aos investidores é expresso em um percentual do CDI, a taxa média de empréstimos entre instituições financeiras. Por exemplo, no portfólio Libra, é possível emprestar dinheiro para dez pequenas empresas com um retorno estimado de 307% do CDI ao fim de 23 meses.

A Biva já fez a intermediação de empréstimos para 1.150 empresas, com valor total de R$ 47 milhões. Para as pequenas empresas, as plataformas surgem como uma forma mais barata de conseguir crédito do que os bancos tradicionais.

"O empréstimo sai mais barato porque olhamos critérios que os bancos olham menos, como qualidade das avaliações em redes sociais e potencial de crescimento", afirma Daniel Gomes, sócio da plataforma Nexoos.

O médico radiologista Leonardo Stellati, 31, tem 5% dos investimentos em start-ups, mas não pretende aplicar mais que isso no momento. "Se o investimento está pagando um percentual acima do mercado de renda fixa, está com um risco maior do que outras opções", diz.

Foi um empréstimo como esse, no valor de R$ 50 mil, que permitiu à empresária Gabriela Bonomi, 24, financiou o crescimento de sua empresa de moda LAGOA | A.

Com o valor, ela transferiu a sede da empresa da casa dos avós para um ateliê, aumentou a produção, contratou quatro profissionais e serviços especializados.

Ela conta ter conseguido juros mensais de cerca de 3% no serviço, menos da metade do que teria desembolsado em empréstimo bancário. Em 12 meses, a companhia conseguiu quitar a dívida.

Para Bonomi, o grande diferencial do serviço foi seu caráter colaborativo e também por parecer menos formal e burocrático do que o tradicional crédito via bancos.


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