Há seis anos, a ex-modelo paranaense Marlene Kaiut combateu preconceitos quando decidiu que iria, ela própria, reerguer a fazenda de gado de leite da família, que estava endividada.
"Resolvi assumir tudo e, logo no primeiro dia, o funcionário não quis me obedecer. Eu tinha que mostrar que quem mandava ali era eu. Se chamasse meu marido, ele não ia me obedecer nunca. Então demiti o funcionário", afirma Kauit, 30.
Depois de conseguir empréstimo, atualizar a fazenda com toda a tecnologia disponível e fazer o negócio voltar a crescer, ela também precisou se impor ao comprar um trator para expandir a capacidade da propriedade.
"Fui à loja usando chinelo, num dia de calor. Quando falei com o vendedor, ele me perguntou como eu ia pagar. Aí eu disse que queria ser atendida pelo gerente dele. Depois disso já comprei dois tratores com o gerente. Eles têm que aprender que não é sempre que vão encontrar um homem tocando o negócio."
Kaiut hoje é uma referência na causa e dá palestras motivacionais para outras mulheres em eventos do setor. Ela ensina aspectos da produção e também incentiva a participação feminina nas atividades do campo.
"Aconteceu a mesma coisa no dia em que eu fui comprar um barracão e levei meu marido junto. Eu falava com o vendedor, mas ele respondia olhando para o meu marido. Esse perdeu a chance de fazer negócio comigo."
APOIO DA FAMÍLIA
A produtora lamenta a falta de apoio da família.
"Meu marido não se incomoda mais. Ele viu os resultados e não reclama. Mas minha mãe, até hoje, fala que eu não deveria trabalhar. Eu gosto do trabalho pesado, de cortar chifre e fazer casco, que é a unha do animal. Não conheço mulher que faz esse trabalho, mas quem não sabe fazer não sabe mandar."
Por falta de tempo, ela já dispensou convites para liderar entidades do setor em Santa Catarina. Hoje na terceira gravidez, Kaiut instalou 22 câmeras para monitorar as filhas em casa e o cotidiano da fazenda quando ela viaja para dar suas palestras.
Há quatro anos, a filha mais velha foi diagnosticada com um tumor no cérebro e precisou ser operada. Foi um momento de inflexão no cotidiano de Kaiut, mas ela conta que não podia desistir.
"Não pensei em parar. Pensei que eu precisava trabalhar ainda mais porque sabia que ela podia precisar de uma situação financeira melhor no futuro para cuidar da saúde", afirmou.
As jornalistas JOANA CUNHA e KARIME XAVIER viajaram a convite da Nestlé