Folha de S. Paulo


Cresce raiva contra Apple na China, após corte de mais de 1 milhão de apps

Está crescendo a raiva na China quanto ao tratamento dado pela Apple a desenvolvedores do país, e um segundo grupo de desenvolvedores chineses apresentou queixa judicial contra a fabricante do iPhone.

"A Apple costumava ter boa reputação", disse Chen Wen, um desenvolvedor de apps de encontros que trabalha em Chengdu, no oeste da China. "Mas seu comportamento recente, o tratamento muito desigual dado aos desenvolvedores chineses, deixou muita gente insatisfeita".

A Apple iniciou uma campanha mundial de repressão ao que vê como apps ilegítimos, alguns meses atrás, e removeu mais de um milhão de aplicativos chineses de sua App Store até agora em 2017, de acordo com dados da ASO 100, que pesquisa sobre tecnologia.

A Apple conduz operações rotineiras de limpeza de sua App Store, e não é incomum que o grupo apague dezenas de milhares de programas de uma vez. Mas até agora este ano, o número de cortes de apps chineses foi superior em 200 mil programas ao de cortes de apps norte-americanos.

A Apple se recusou a comentar sobre o número específico de apps chineses eliminados. A ASO 100 afirma que seus dados foram compilados em parceria com a empresa norte-americana.

No mês passado, o Dare & Sure, um escritório de advocacia de Pequim, abriu o primeiro processo antitruste chinês contra a Apple, em nome de 28 desenvolvedores. O caso agora foi expandido e incorpora mais de 50 desenvolvedores. E um segundo escritório de advocacia, em Chengdu, no oeste da China, está afirmando que 23 outros desenvolvedores foram igualmente maltratados.

"Nosso objetivo comum ao iniciar esse processo coletivo é combater por relações leais de negócios para os desenvolvedores chineses", escreveu o escritório de advocacia Sichuan Fa Ye Law Firm em uma queixa apresentada na semana passada às autoridades regulatórias comerciais e econômicas da China.

A Apple repetiu seu comentário sobre a queixa original: "A App Store publica diretrizes que se aplicam igualmente a todos os desenvolvedores em todos os países nos quais operamos, e cumprimos as leis e regulamentos locais", afirmou a empresa, afirmando que trabalha com afinco pelo sucesso de seus desenvolvedores.

A China é o mais importante mercado para a App Store da Apple em termos de receita, de acordo com o grupo de pesquisa de mercado IDC.

O Dare & Sure, de Pequim, e o Sichuan Fa Ye Law Firm acusaram a Apple de abusar de seu controle sobre a iOS App Store, a única fonte oficial de download de apps para o iPhone, por remover apps sem motivos sólidos. Alguns desenvolvedores chineses afirmam que em muitos casos não foram notificados antes da exclusão de seus apps, e quer não obtiveram respostas úteis da empresa para explicar a decisão.

"Quando empresas importantes para a Apple afirmam que certos apps violam seus direitos e devem ser removidos, a Apple o faz com pouca ou nenhuma prova", afirmou o escritório Dare & Sure.

"Alguns desenvolvedores da Apple detém o monopólio do poder e podem fazer o que bem entenderem, podem fazer remover qualquer app que desejem excluir", disse Gu Cheng, um desenvolvedor freelancer.

Muitos desenvolvedores dizem que apps que podem parecer cópias de outros às vezes se dirigem a audiências ou locais diferentes, e que eles não compreendem como a Apple decide que aplicativos devem ser tratados como originais.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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