Folha de S. Paulo


Prejuízo e disputa por poder derrubam presidente da dona da Sadia/Perdigão

Joel Silva - 16.mar.2016/Folhapress
SAO PAULO, SP BRASIL- 16-03-2016 : o presidente da BRF bbr foods (dona da Sadia e Perdigão), Pedro Faria, durante entrevista à Folha na sede da empresa ( Foto: Joel Silva/ Folhapress ) ***MERCADO *** ( ***EXCLUSIVO FOLHA***)
O então presidente da BRF, Pedro Faria, que foi destituído em reunião do conselho da empresa nesta 5ª

O Conselho de Administração da BRF, líder do mercado de alimentos processados no país e dona de marcas como Sadia e Perdigão, destituiu o presidente da empresa, Pedro Faria. A decisão ocorreu em reunião na tarde desta quinta (31) e colocará fogo na já atribulada disputa de poder no grupo.

Faria era sócio do fundo de investimentos Tarpon, dono de 8,5% da BRF, e estava no cargo desde 2014. Em nota, o presidente do conselho, Abilio Diniz, afirmou que Faria ficará no cargo até o fim deste ano. "Foi uma decisão em conjunto", disse Abilio em teleconferência.

A BRF acumula R$ 925 milhões em prejuízos desde 2016, motivo primário da queixa do conselho. A gestão atribui os problemas à crise econômica e aos efeitos da Operação Carne Fraca, que desde março investiga empresas do setor de alimentos sob suspeita de irregularidades e corrupção.

"Será uma transição para um novo ciclo", afirmou, no mesmo evento, Faria. Ele voltará à Tarpon em 2018. Abilio afirmou que o novo presidente da BRF será alguém de fora da empresa, mas insistiu que não houve "erros", e sim "correções de rumo" na gestão do grupo. "Saímos de um ciclo muito adverso."

Segundo a Folha apurou, a destituição foi apoiada principalmente pelo Petros, o fundo de pensão da Petrobras, que é o maior acionista da BRF (14%). Ela era um desejo antigo de sócios minoritários incomodados com o estilo de administração do Tarpon e Abilio.

O empresário, um sócio minoritário da BRF com 4% de suas ações, foi alçado ao cargo de presidente do conselho em 2013. Ao longo dos anos houve disputas ríspidas com o Tarpon, algumas centradas na presença de um braço-direito do empresário na BRF, José Roberto Pernomian Rodrigues.

JR, como era conhecido, é homem de confiança de Abilio e galgou cargos na BRF. Entrou em 2013 como consultor, virou diretor jurídico e em 2016, assumiu a vice-presidência de Integridade do grupo. Só que ele tinha 17 processos judiciais, e no mês passado acabou tendo de pedir demissão após ser condenado em segunda instância num dos casos, por fraude. Ele afirma inocência e está recorrendo.

Perguntado sobre o aliado, Abilio apenas disse que a reportagem estava "mal informada".

JR e Faria eram rivais internos, mas neste ano a disputa havia arrefecido para enfrentar o desgaste da Operação Carne Fraca. Além disso, houve uma mudança no balanço de poder no Conselho de Administração.

Além do Petros, é grande acionista o Previ, fundo do Banco do Brasil, com 13%. Durante a gestão Dilma Rousseff (PT), eles apoiaram as decisões do Tarpon e de Abilio, mas o impeachment da presidente em 2016 mudou a realidade política.

Com isso, a emergência de acusações judiciais sérias contra indicados dos fundos não foi absorvida com tolerância. Um ex-conselheiro, Aldemir Bendine (ex-Petrobras e ex-BB), foi afastado em abril e acabou depois preso pela Operação Lava Jato. Outros dois foram apontados na delação da JBS na Lava Jato como infiltrados do grupo dos irmãos Batistas na rival, visando talvez facilitar sua venda. Estão sendo processados.

Um grupo de governadores de Estados em que a BRF possui unidades entregou documento ao presidente Michel Temer queixando-se da gestão da empresa. Abilio minimizou a reunião, dizendo que ela não teve representatividade, e negou que problemas de gestão tenham gerado a situação apontada no texto.

O documento de 3 de abril, revelado pela Folha, lista críticas à gestão Tarpon/Abilio e pede mudanças na direção da empresa. Além dos enroscos judiciais, o endividamento da empresa, que era mínimo, subiu desde que a gestão assumiu para 4,9 vezes o Ebitda (lucro antes de pagamento de juros, impostos, depreciação e amortizações).

A ação da empresa, que teve um pico na gestão Abilio/Tarpon e atingiu cerca de R$ 70, fechou o pregão desta quinta a R$ 42,50.


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